Naquele frio e radioso
feriado de 29 de junho de 1934, dedicado a São Pedro, Porto Alegre amanheceu
febril, em incomum e generalizada excitação. A todo instante conferiam-se
relógios, pois às onze horas sobrevoaria a cidade o famoso Graf Zeppelin, maravilha
da engenharia aeronáutica germânica. Bem cedo os donos das poucas máquinas fotográficas
estavam nas ruas, dirigindo-se aos pontos mais elevados do anunciado percurso
do enorme aparelho sobre a capital: Morro Ricaldone, Praça da Matriz e
Teresópolis.
O dirigível ia para
Buenos Aires, procedente do Rio de Janeiro, mas desviara o trajeto como
propaganda nazista homenagem à grande colônia alemã do Estado.
O Dr. Isidro Heredia,
excelente clínico-geral da época, atendia um colono italiano da zona do vinho.
Ao colocar o termômetro no paciente, ouviu da rua surdo e potente ruído de
motores, misturado com os gritos de júbilo da multidão. Pediu licença, foi lá fora
e pôde admirar a majestosa passagem da aeronave, parecida com monumental
charuto metálico. Ainda impressionado com o magnífico espetáculo, o médico
voltou ao consultório. Terminou o exame, receitou a medicação e mandou o homem
embora. Às dez da noite o italiano telefonou:
- Dotore, scusa, ma io chamei per
che queria saber se já posso tirar aquele coisinha de vidro de baixo do
braço...