Nesta sexta-feira próxima passada o cantor Gilberto Gil, 79 anos, tomou posse na cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A cerimônia para torná-lo imortal aconteceu rodeada de pompas.
Nada contra esta escolha. Acho Gilberto Gil um belo compositor, um pensador. O que ainda me magoa ao ver estas ostentações é lembrar que a política está acima do valor literário e que o grande poeta do Alegrete Mario Quintana nunca foi aceito neste grupo.
Vida que segue. Talvez esta Academia não tenha feito por merecer nosso Quintana, um dos maiores escritores do século XX.
Assim Gilberto Gil se pronunciou ao ser empossado:
Em maio de 1968, na capa do meu segundo LP, e já integrado à Tropicália, apareço envergando um fardão e usando pincenê. Ao recordar esse episódio escrevi um poema para este evento:
“Sempre houve críticas à Academia,
que a Casa de Machado não faria jus
ao sonho que sonhara ser um dia:
todos ali representados por alguns.
Tal ampla representatividade
sonhada por Nabuco e demais fundadores
jamais fora alcançada de verdade,
jamais todos os saberes e sabores.
Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras,
cheguei a envergar um garboso fardão,
vestido então como ironia dura,
a fantasia pura da ilusão!
Juntava-me, naquele instante, aos muitos
que alfinetavam a Instituição
mal sabia eu quais os intuitos,
do destino astuto a interrogação.
Um amigo lembrou-me outro dia
que as ironias sempre trazem seu revés.
papéis trocados, eis aqui, vida vadia:
fardão custoso, bordado a ouro, vistoso,
me revestindo da cabeça aos pés”