O chimarrão é a bebida
símbolo do Rio Grande do Sul. Em qualquer rancho desta querência, por mais
humilde que seja, pode faltar o luxo nas iguarias mas não faltará um
"topetudo" espumante com erva buena, cevado a capricho. É o nosso gesto fraterno de mostrar que estamos felizes com a presença de quem nos dá "hô de casa".
Pois o tal "seio
moreno" tapado com o verde das coxilhas deste pago tem me causado algum
constrangimento.
Com o advento da
pandemia e seus cruéis efeitos, se recomenda os cuidados básicos de lavar as
mãos, usar máscaras, cumprimentar-se a distância e... não compartilhar o mate.
Ocorre que nem todos
entendem tal ação como uma precaução.
Ao contrário dos
hermanos argentinos e uruguaios que tem seus avios de mate de forma individual,
o gaúcho brasileiro vê nas rodas de chimarrão, no passar de mão-em-mão, uma
forma de comunhão.
Eu tenho em minha
morada dois aparelhos completos mas, sinceramente, me sinto constrangido ao
oferecer a seiva amarga dos gaúchos em cuias separadas a quem me visita. Soa
como se eu desconfiasse da saúde dos meus convidados.
Da mesma forma, já
ocorreu-me de ir na casa de amigos e, ao receber o chimarrão, eu dar uma
desculpa para não sorver "a velha hospitalidade da gente do meu
rincão".
Ai vem a tona aquela
velha encruzilhada: Razão ou coração?
Penso que só o tempo
resolverá estes senões impostos pelo vírus. Até lá temos que ser práticos
e racionais e não ver na negativa do mate um sinal de desconfiança mas sim um gesto de
apreço pela saúde de quem chimarreia com a gente.
FALANDO EM CHIMARRÃO...
... esta semana, como
Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura, relatei o projeto que propõe a
realização do 35º Carijo da Canção Gaúcha de Palmeira das Missões. Um festival
aonde já fui avaliador em duas ocasiões e posso testemunhar a grandeza do
evento bem como o envolvimento da comunidade com tal acontecimento, pois Palmeira,
simplesmente, se muda de mala e cuia para o Parque de Exposições aonde acontece
o festival.
Depois de minha
relatoria muitos me perguntaram o significado de Carijo. Pois bueno:
Carijo é o procedimento
de secagem das folhas da erva-mate, fato que exige dedicação e atenção
constante. Para tanto é feito um fogo grande e uma armação em forma de grade,
geralmente de varas descascadas e amarradas com cipó, onde se coloca as folhas
verdes para serem crestadas (secadas). Carijada é o nome que se dá a esta forma
artesanal e rudimentar de produção de erva-mate. Durante este processo que pode
levar longos dias, para aproveitamento do fogo e a sua temperatura ideal, as
pessoas “rondavam” o carijó, cantando, dançando e tomando muito chimarrão. Daí,
originou-se o nome do festival.