RETRATO DA SEMANA

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Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

MORTE DAS CASAS DE OURO PRETO



Um deslizamento de terra em Ouro Preto, na região Central de Minas, soterrou dois casarões históricos (foto) na manhã desta quinta (13/1). Um dos imóveis era patrimônio histórico do município.

O poeta Carlos Drummond de Andrade em 1951 escreveu:


Morte das Casas de Ouro Preto

[Carlos Drummond de Andrade]

 

Sobre o tempo, sobre a taipa,

a chuva escorre. As paredes

que viram morrer os homens,

que viram fugir o ouro,

que viram finar-se o reino,

que viram, reviram, viram,

já não veem. Também morrem.

 

Assim plantadas no outeiro,

menos rudes que orgulhosas

na sua pobreza branca,

azul e rosa e zarcão,

ai, pareciam eternas!

Não eram. E cai a chuva

sobre rótula e portão.

 

Vai-se a rótula crivando

como a renda consumida

de um vestido funerário.

E ruindo se vai a porta.

Só a chuva monorrítmica

sobre a noite, sobre a história

goteja. Morrem as casas.

 

Morrem, severas. É tempo

de fatigar-se a matéria

por muito servir ao homem,

e de o barro dissolver-se.

Nem parecia, na serra,

que as coisas sempre cambiam

de si, em si. Hoje, vão-se.