Que estamos cruzando tempos difíceis não precisa eu dizer. É só nos inteirarmos do que acontece em nossa volta, no mundo todo. A pandemia não arrefeceu os ânimos. Ao contrário, as pessoas parecem mais raivosas, donas de si, sem humildade. Pior que isto, continuamos a perder amigos e conhecidos a todo o momento. Anteontem foi mais um parceiro, o Tiaraju. Rapaz novo, tatuador, cantor de banda de rock, guri gente fina e querido por todos da minha terra.
Essas coisas todas me fazem lembrar da Lenda do Urutau.
Os antigos diziam que o urutau aparece na hora em que a lua nasce e seu canto triste se assemelha a “foi, foi, foi...”. Também comentavam que o pássaro seria uma mulher que perdera seu amor. Por isto, ele teria o nome de pássaro-fantasma. Mas o pior das relações com o canto desta ave é que este seria um presságio ou aviso de morte de algum familiar.
Não tenho ouvido urutaus mas, se as lendas corresponderem a realidade, eles devem estar com a garganta judiada de tanto cantar. Que coisa.
O urutau (Nyctibius
griseus), pássaro que em tupi-guarani significa ave-fantasma, durante o dia
permanece totalmente imóvel sobre um tronco, um galho ou um mourão de cerca. À
noite, faz ecoar um canto melancólico, parecido com um lamento humano.
O urutau vive em bordas
de florestas, campos com árvores e cerrados e é encontrado nas regiões mais
quentes desde a Costa Rica até o Uruguai. Não constroem ninhos. Põem um único
ovo num oco de galho de árvore e este ovo é chocado pelo macho. O tempo de
incubação dura, aproximadamente, 33 dias. O filhote permanece mais 51 dias no
ninho, um dos períodos de desenvolvimento mais longos para as aves no
continente americano.
O pássaro adulto possui
cerca de 37 centímetros de comprimento e 160 gramas de peso. Muitas vezes é
confundido com uma coruja porque possui olhos grandes e desproporcionais ao
tamanho da cabeça larga e achatada. À noite, quando iluminados por uma
lanterna, os olhos refletem uma luz avermelhada, visível a grande distância. Os
olhos enormes são de grande utilidade para a sua vida noturna porque favorecem
a entrada da luz no cristalino permitindo uma visão noturna privilegiada. Mas
isto não é tudo. As pálpebras superiores do urutau possuem fendas que permitem
que "veja mesmo com os olhos fechados". É por esse "olho
mágico" que ele consegue enxergar em todas as direções sem precisar mexer
muito a cabeça. Esta fenda também controla o movimento que ele faz quando algum
predador se aproxima. Lentamente, ele estica o corpo e levanta a cabeça até a
cauda tocar o tronco. Sem abrir os olhos, a camuflagem se torna tão perfeita
que o inimigo não consegue percebê-lo. Com isso, confunde-se com uma ponta de
galho seco ou o prolongamento de uma estaca, uma camuflagem chamada
"mimetismo de galho".
A boca do urutau é
enorme, parecida com a de um sapo cururu. Essa aparência assustadora é usada
como arma para afastar a maioria dos predadores e, é lógico, para facilitar a
ingestão das suas refeições de insetos.
O urutau só dorme
quando se sente totalmente seguro. Sai à noite para se alimentar de insetos
noturnos, em especial de grandes mariposas, cupins e besouros. Ele caça em vôo,
nunca pousa no chão, preferindo voar alto de uma árvore para outra.
Outra lenda sobre o pássaro, esta vinda da Amazônia. Acredita-se que as penas da cauda do urutau protegem a castidade. Por isso, a mãe varre debaixo das redes das meninas com uma vassoura feita com estas penas. Outra lenda garante que aquele que escrever uma carta para a pessoa amada com uma pena de urutau terá o amor correspondido.