Professor Antônio Rodrigues reconstruiu o barco Seival,
Foto: Igor Garcia / Divulgação
Em construção há dois
anos e com um custo total de cerca de R$ 600 mil, foi apresentada no último
sábado (18), em Camaquã, no interior do Rio Grande do Sul, uma réplica do barco
Seival, usado por Giuseppe Garibaldi (1807-1882) durante a Revolução
Farroupilha (1835-1845). A iniciativa é um projeto ousado do professor Antônio
Carlos Rodrigues.
Para reproduzir a
embarcação de quase 200 anos atrás, o professor se baseou em documentos
históricos, em plantas de embarcações de Laguna e em uma fotografia do Seival
original tirada em 1908. A réplica pesa cerca de 15 toneladas e tem 15 m de
comprimento, com largura de 3,8 m e altura de 3,2 m.
O novo Seival deve
voltar ao estaleiro, onde receberá seu motor - característica, é claro, que o
difere do barco original. Daqui a uma semana, o professor Rodrigues pretende
levá-lo à água pela primeira vez.
A embarcação começou a
ser construída em dezembro de 2019, em um estaleiro improvisado na antiga sede
dos bombeiros da cidade, e foi apresentada à população como parte das
festividades de Natal em Camaquã, em evento realizado pela prefeitura no
Complexo Poliesportivo Rui de Castro Netto, mais conhecido por Prainha.
Camaquã foi escolhida
pelo professor, que é natural de Passo Fundo, porque textos históricos apontam
que foi lá que os farrapos construíram o Seival e outro barco usado na tomada
de Laguna, o Farroupilha.
"A ideia desse
projeto tem 5 anos. Fizemos sem apoio institucional, do poder público ou de
grandes empresas, eu que coloco a mão na massa. Faço pesquisa, busco materiais,
pego nas ferramentas, tudo com apoio da família e de amigos", conta o
professor.
Rodrigues contou com
doações de amigos e familiares, além de um aporte vindo da Associação
Garibaldina de Roma, na Itália. Para centralizar todos os interessados em
ajudar na ideia, o professor criou a Associação Sócio-Ambiental Amigos do
Seival (Asas).
Chamado à época de
"lanchão", o barco Seival original é central em uma das passagens
mais importantes da Revolução Farroupilha. Como o porto de Rio Grande estava
fechado pelos imperialistas, os farrapos decidiram transportar duas embarcações
- o Seival e o Farroupilha - por terra, com a ajuda de grandes carroças de
madeira puxadas por centenas de bois entre Camaquã e Tramandaí.
A partir da Lagoa Tomás
José, na altura de Imbé, os dois barcos passaram a navegar até Laguna. O
Farroupilha naufragou, deixando 16 integrantes mortos, enquanto o Seival, sob
comando de Giuseppe Garibaldi, chegou ao seu destino - em episódio que culminou
com a tomada da cidade catarinense pelas forças farrapas.
Com vela e motor, a embarcação foi construída com a ajuda do construtor naval Jader Pontes e é funcional - ou seja, tem toda a estrutura necessária para ser usada para meio de locomoção sobre a água.
A construção da
réplica, no entanto, tem finalidade pedagógica. A ideia de Rodrigues é
transformá-la em uma espécie de museu itinerante, contando a história da
Revolução Farroupilha e, principalmente, sobre o episódio da tomada de Laguna.
Queremos instigar a
pesquisa da nossa história, principalmente na questão náutica. Durante a
pesquisa, vimos a riqueza da história náutica farroupilha, que é intensa e
apaixonante", avalia o professor.
Depois da apresentação
do barco ao público, o professor agora se prepara para sair em turnê com seu
museu itinerante. A ideia inicial é visitar as cidades que fizeram parte do
trajeto original do Seival e do Farroupilha. Laguna, o destino final, receberá
o novo Seival entre 12 e 20 de julho do ano que vem. Pelo menos outras sete
cidades tem data reservada para a apresentação do barco - a próxima é Barra do
Ribeiro, em 20 de fevereiro. Arambaré, Tapes, Cristal, Pelotas, Rio Grande e
São Lourenço também já se preparam para a visita da embarcação.
Mas Antônio não é
professor de História, como o interesse pelo episódio sugere. Formado em
Educação Física, ele tem um histórico de usar o transporte naval para abordar
temas ambientais. Em 2013, ainda em Passo Fundo, criou o Projeto Navegar com o
Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas, em que produziu embarcações com material
reciclável em parceria com escolas públicas da região. Com esses barcos
artesanais, viajou até Montevidéu, no Uruguai.