O POÇO DO SEU EURICO LOURENÇO
O velho Eurico Lourenço se mudara do Itacurubi, interior de São Borja, para a cidade. Cansara de carretear. Cinquenta anos de corredores, pega boi e larga boi, amansa tambeiros e conserta eixos e cambotas, cansam qualquer vivente. Levantou um rancho pobre no bairro do Paraboi. Cavou um poço que deu água com cinco metros de fundo. Perto, a "casinha" para as necessidades.
Bateu-lhe a porta, um dia, o fiscal do Posto de Higiene. Identificou-se, pediu licença para verificar o estado sanitário do local. O velho Lourenço no costado, rente como pão quente. Ao se dar com o poço próximo da "casinha" o fiscal comentou:
- Seu Lourenço, que barbaridade. O poço de beber água ao lado da privada. Vai adoecer todo mundo. Este poço tá contaminado. Deve ter micróbio de tudo quanto é espécie.
O "Gralha" - apelido do seu Lourenço - apotrou-se:
- Mas que micróbio coisa nenhuma, seu fiscal. Meu poço tem cinco metros e o maior micróbio que eu conheço é o tatu que não cava mais que dois metros de fundura.
Da coletânea Rapa de Tacho. Apparicio Silva Rillo