Jarbas Pessano, o
conhecido “Binha” dos meios tradicionalistas do Estado, além de excelente
cozinheiro de acampamento (e de salões), executante de bombo legüero e emérito
jogador de truco, tinha, entre outras, mais uma excepcional qualidade: conhecia de
cor, "inclusivemente" as vírgulas e reticências, todo o rol dos mais recitados
poemas do universo poético nativista.
Suas intervenções, em
várias oportunidades, livrou de vexames públicos declamadores sujeitos a
brancos de memória. Era o Binha perceber que o sabiá perdeu-se nos gorgeios e lá
vinha a “assoprada” salvadora.
De uma feita,
integrando o grupo nativista Os Teatinos, liderado pelo exímio violonista
Glênio Fagundes, estava ao microfone um dos maiores declamadores do Rio Grande
– Marco Aurélio Campos, o “Boca”.
Recitava, por
coincidência, um poema deste escriba, intitulado Infância, integrado, há muito, a seu
amplo repertório de textos.
Uma das características
do Boca, como declamador, eram as pausas que introduzia ao longo dos poemas que
interpretava, levando os espectadores menos avisados, muitas vezes, ao falso
entendimento de que o intérprete esqueceu o texto.
Umas das estrofes de
Infância diz: “Estância de mentira e de ilusão!/Teu capataz, me lembro,/ era um
sabugo,/ e o teu gado de lei,/ sem magro nem refugo,/ eram ossos de cola e de
garrão”.
E nesta estrofe estava
o Boca, frente a plateia atenta e silenciosa.
Ao chegar no “...teu
capataz, me lembro...", Marco Aurélio, braço direito estendido e mão
espalmada, olhando um vago ponto nas alturas, aplicou uma de suas características
e grandes pausas.
O Binha, certo de que o
amigo sofrera um branco, aproximou-se, com passos de lã, do declamador e
assoprou-lhe, de canto de boca, a continuação do poema:
- ... era um sabugo...
Boca não resistiu. Já
não era a primeira vez que o “espírito santo de ovelha” intervinha em suas
participações.
Ao escutar o assopro de
“era um sabugo...”, explodiu com o Binha, mal se dando conta de que o microfone
estava aberto:
- Sabugo te enfiei no
rabo!
Esperou que cessassem
os risos e continuou o poema, impávido, solene e pausativo.
Causo recolhido por Apparício Silva Rillo