RETRATO DA SEMANA

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MTC Desenhos

domingo, 26 de setembro de 2021

CAUSOS DE GALPÃO

 

Como hoje é domingo, temos tempo para um mate a preceito, uma canha branquinha, e um causo de galpão:

Cartun: Bier

Foi no tempo da Revolução de 23 que o Calostro Figueiredo, cria do Itaqui, se apresentou como voluntário nas forças do coronel Aníbal Padão, caudilho (no bom sentido) que morreu peleando no combate do Mandiju. 

O Calostro era famoso por sua brabeza. Por pouca coisa no mais virava numa mamangava rajada. Até os amigos temiam seus repentes. Anibal Padão o recebeu satisfeito: touro da marca do Calostro berrava em qualquer rodeio.

Num entreveiro dos feios, antes do Mandiju - ali pelas cabeceiras do Butui, entre Itaqui e São Borja - teve o Calostro o seu batismo de fogo. Peleou como quem dança em surungo, mais a vontade que bugio em mato de fruta. Não havia terminado o entreveiro quando o Calostro deu cara-volta no cavalo e galopou para o acampamento provisório, o corpo erguido sobre o serigote.

Minutos após encerrado o pega pra capar o coronel encontrou o Calostro recostado numa raiz de umbu. A cara mais feia que briga de foice em quarto escuro.

- Mas que houve contigo, companheiro? Refugou o puchero antes de comer o fervido?

O Calostro levantou-se Sem qualquer explicação preliminar virou-se para o coronel e apontou os fundilhos. A bombacha de brim claro mostrava uma mancha colorada no entrepernas, bem ali aonde o espinhaço perde o nome. 

- Levou um tiro na bunda, Calostro? 

- Tiro coisa nenhuma, coronel. Com perdão pela má palavra, me caguei tudo...

- Mas índio velho e valente como tu não se caga no mais, Calostro. Caganeira das grandes, deve ser...

- Nunca tive caganeira, coronel. Nem em guri. Mas desta feita me caguei de toda tripa. Só não sei se me caguei de brabo ou se estou brabo porque me caguei....

Pediu licença e se foi a sanga lavar o alcatre. 


Do livro Rapa de Tacho Vol. 01 - Apparício Silva Rillo