RETRATO DA SEMANA

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Identidade Visual dos Festejos Farroupilha 2024 / Cintia Matte Ruschel

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A IMPORTÂNCIA DO CTG

 Por: Léo Ribeiro

Um fato que chamou a atenção durante a pandemia, quando diversas Leis e Decretos foram criados com o intuito de ajudar entidades culturais e artistas de vários segmentos, foi a baixa aprovação de projetos ligados a tradição gaúcha embora o grande número de inscritos. 

Analisando, por exemplo, a Lei Aldir Blanc, que distribuiu nacionalmente um valor expressivo, poucos artistas vinculados ao tradicionalismo ou os próprios Centros de Tradições foram beneficiados. E isto se repetiu em vários "prêmios" do gênero. 

Conversando com alguns avaliadores destes projetos observei um detalhe interessante.  

Estas pessoas tem uma ideia errônea e fazem a ligação do gaúcho de bombacha de hoje com o estancieiro, o criador, o explorador da mão-de-obra da peonada de antigamente. É um pensamento retrógado mas que prejudica a quem tanto precisa destes auxílios emergenciais. Para estes julgadores de projetos a gauchada "se vira", tem dinheiro no bolso da bombacha e não precisa de recursos públicos, dando preferência a outros setores da economia criativa.   

As coisas mudaram mas estes "analistas" ainda não compreenderam que a tradição gaúcha cruzou tempo e fronteiras. Os cultores da tradição de hoje não são, necessariamente, filhos de fazendeiros. Eu mesmo, que há meio século venho cultivando os costumes do chão em que nasci sou filho de gente humilde. A tradição urbanizou-se, deixou de ser pastoril para atingir a todas as camadas sociais.  

Neste sentido destacamos a importância do CTG, encravado lá nas vilas, cumprindo sua função de integração, participando das atividades da comunidade que o cerca, identificando-se com os problemas comunitários mas, ao mesmo tempo, matando a saudade e levando alegria aos interioranos perdidos pelas grandes cidades. 

O Centro de Tradição Gaúcha confunde-se identitariamente com aqueles que o frequentam. É uma sociedade que sobrevive entre tantas que, por força das redes sociais, acabaram falindo. Poucos saem do conforto do lar, com o mundo ao seu alcance via internet, para frequentar algum clube. O CTG ainda consegue isto. 

É nestes recantos de costaneiras que a família se reúne, os jogadores de truco "cantam flor", a gurizada marca encontro para um mate a preceito, os ensaios de danças acontecem, o repasse de informações de geração para geração se faz presente. Quantos e quantos artistas Rio-grandenses saíram do interior de um CTG? 

Por tudo isso (e muito mais) devemos lutar pela preservação dos Centros de Tradições. É a trincheira que resta nesta guerra que visa um mundo globalizado mas destruidor de culturas próprias.