O CHOCOLATE NOSSO DE CADA DIA
NOS DAI HOJE
Por: Paulo Silvino Ribeiro
De uma data judaica,
transformando-se em data cristã, hoje a Páscoa é muito mais lembrada por seu
sentido comercial.
Dentre as datas cristãs
mais conhecidas está a Páscoa, momento em que o cristianismo celebra a
consumação do sacrifício de Deus encarnado em homem para a salvação da
humanidade. Segundo o cristianismo, com a morte de Jesus e sua ressurreição ao
terceiro dia, a vitória da luz sobre as trevas estaria consumada, o que sugere
ser a Páscoa um momento de renovação e renascimento, de festa em nome da
esperança.
Contudo, a despeito de
sua importância para os cristãos, trata-se de uma data de origem ainda bastante
discutida entre especialistas, mas que, em linhas gerais, parece haver consenso
quanto a sua importância para o povo judeu desde os tempos do fim da diáspora
(fuga do Egito quando eram escravos). Segundo consta, a palavra Páscoa vem do
substantivo pesah e o verbo pasah (de mesma raiz verbal) significa passar por
cima, saltar por cima, conforme aponta do teólogo Tércio Machado Siqueira.
Assim, a Páscoa seria a celebração judaica por se ter passado pela escravidão e
alcançado a terra prometida, como se vê nas citações da Páscoa nos textos do
Antigo Testamento. Logo, o que se entende é que a data foi incorporada pelo
cristianismo pelo fato de que a crucificação de Jesus ocorreu no período
Pascal.
Além disso, haveria
certa relação em termos de significação e sublimação desta data para ambas as
religiões (Cristianismo e Judaísmo), uma vez que Páscoa estaria sempre ligada à
ideia de redenção e de passagem, seja pelo sucesso da fuga do Egito pelos
hebreus, seja pela ressurreição de Cristo. Para o cristianismo, mas
especificamente para a Igreja Católica, a Páscoa é também a marcação do fim da
quaresma, período este que se inicia com a quarta-feira de cinzas, no qual se
propõe uma maior constrição e reflexão por parte dos fiéis, aludindo-se ao
período em que Cristo teria ficado no deserto durante quarenta dias e quarenta
noites.
Porém, se a Páscoa do ponto de vista cristão é
vista como o momento da reflexão acerca do renascimento, isso ajudaria a pensar
porque as figuras do coelho e do ovo se fazem presente neste contexto: ambos
remetem à ideia da fertilidade, do nascimento. Como se sabe, entre algumas
culturas era comum o presentear com ovos decorados artesanalmente, o que mais
tarde se transformou em mais uma mercadoria a ser explorada pela lógica
capitalista. Confeiteiros franceses, segundo consta já no século XVIII,
lançaram os primeiros ovos de chocolate, os quais hoje acabaram por usurpar o
sentido da Páscoa, muito mais lembrada por tais guloseimas do que por seu
sentido religioso entre as pessoas de modo geral. Os símbolos mais tradicionais
das culturas populares tornaram-se assim produtos, coisas do mundo do consumo,
e dessa forma soterrando-se seus significados primeiros.
Sendo assim, os
significados da Páscoa para a cultura ocidental foram se moldando ao longo do
tempo, mas ao que parece, cada vez (assim como outras datas e outros símbolos)
está mais longe das origens, esvaziando-se em termos dos significados
mitológicos, religiosos, confundindo-se com uma data comercial para exploração
de um produto. Neste caso, o chocolate.