RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Banquete oferecido ao General Honório Lemes (na ponta da mesa) pelo Dr. Fernando Abbott em sua residência em São Gabriel.

domingo, 4 de abril de 2021

O SENTIDO DA PÁSCOA

 

O CHOCOLATE NOSSO DE CADA DIA 

NOS DAI HOJE


Por: Paulo Silvino Ribeiro


De uma data judaica, transformando-se em data cristã, hoje a Páscoa é muito mais lembrada por seu sentido comercial.

Dentre as datas cristãs mais conhecidas está a Páscoa, momento em que o cristianismo celebra a consumação do sacrifício de Deus encarnado em homem para a salvação da humanidade. Segundo o cristianismo, com a morte de Jesus e sua ressurreição ao terceiro dia, a vitória da luz sobre as trevas estaria consumada, o que sugere ser a Páscoa um momento de renovação e renascimento, de festa em nome da esperança.

Contudo, a despeito de sua importância para os cristãos, trata-se de uma data de origem ainda bastante discutida entre especialistas, mas que, em linhas gerais, parece haver consenso quanto a sua importância para o povo judeu desde os tempos do fim da diáspora (fuga do Egito quando eram escravos). Segundo consta, a palavra Páscoa vem do substantivo pesah e o verbo pasah (de mesma raiz verbal) significa passar por cima, saltar por cima, conforme aponta do teólogo Tércio Machado Siqueira. Assim, a Páscoa seria a celebração judaica por se ter passado pela escravidão e alcançado a terra prometida, como se vê nas citações da Páscoa nos textos do Antigo Testamento. Logo, o que se entende é que a data foi incorporada pelo cristianismo pelo fato de que a crucificação de Jesus ocorreu no período Pascal.

Além disso, haveria certa relação em termos de significação e sublimação desta data para ambas as religiões (Cristianismo e Judaísmo), uma vez que Páscoa estaria sempre ligada à ideia de redenção e de passagem, seja pelo sucesso da fuga do Egito pelos hebreus, seja pela ressurreição de Cristo. Para o cristianismo, mas especificamente para a Igreja Católica, a Páscoa é também a marcação do fim da quaresma, período este que se inicia com a quarta-feira de cinzas, no qual se propõe uma maior constrição e reflexão por parte dos fiéis, aludindo-se ao período em que Cristo teria ficado no deserto durante quarenta dias e quarenta noites.

Porém, se a Páscoa do ponto de vista cristão é vista como o momento da reflexão acerca do renascimento, isso ajudaria a pensar porque as figuras do coelho e do ovo se fazem presente neste contexto: ambos remetem à ideia da fertilidade, do nascimento. Como se sabe, entre algumas culturas era comum o presentear com ovos decorados artesanalmente, o que mais tarde se transformou em mais uma mercadoria a ser explorada pela lógica capitalista. Confeiteiros franceses, segundo consta já no século XVIII, lançaram os primeiros ovos de chocolate, os quais hoje acabaram por usurpar o sentido da Páscoa, muito mais lembrada por tais guloseimas do que por seu sentido religioso entre as pessoas de modo geral. Os símbolos mais tradicionais das culturas populares tornaram-se assim produtos, coisas do mundo do consumo, e dessa forma soterrando-se seus significados primeiros.

Sendo assim, os significados da Páscoa para a cultura ocidental foram se moldando ao longo do tempo, mas ao que parece, cada vez (assim como outras datas e outros símbolos) está mais longe das origens, esvaziando-se em termos dos significados mitológicos, religiosos, confundindo-se com uma data comercial para exploração de um produto. Neste caso, o chocolate.