Hoje, 24 de abril, é o Dia do Chimarrão e do Churrasco no Rio Grande do Sul. Como são temas extensos, nesta data vamos nos deter mais especificamente sobre o Chimarrão.
O chimarrão é
considerado um dos principais símbolos da cultura gaúcha, visto não apenas como
uma bebida de paixão mas também como um importante
conector social.
O ato de “tomar um
mate” pode ser interpretado como um convite
social, visto que o chimarrão é uma bebida normalmente compartilhada. Nestes tempos de pandemia este hábito está mudando e seguindo o exemplo dos irmãos uruguaios e argentinos aonde cada indivíduo mateia com seus próprios avios.
Em homenagem a este
símbolo de grande importância para o gaúcho, foi criado o Dia do Chimarrão instituído a partir da Lei Estadual nº 11.929, de 20 de junho de
2003.
A escolha do dia 24 de
abril para celebrar o chimarrão, considerado uma bebida símbolo
dos gaúchos, e do churrasco, considerado o prato típico do gaúcho, é uma homenagem a fundação do primeiro Centro de Tradição Gaúcha
do mundo – 35 CTG -, em 24 de abril de 1948.
A tradição de fazer uma
espécie de chá feito com a erva-mate era comum entre os indígenas que habitavam
a região sul do Brasil e atual Uruguai, principalmente entre os guaranis,
aimarás e quíchuas.
LENDA DA ERVA MATE
Segundo conta a lenda, a erva-mate surgiu após o pedido de um velho pajé ao Deus Tupã. O chefe índio que antes era tão vivaz e feliz estava cada vez mais triste, pois percebeu que a velhice também haveria de chegar para ele. Com isso uma preocupação passou a lhe perturbar: quem seria seu sucessor. O pajé teve apenas uma filha, a índia Caá-Yari, por isso deveria escolher um dos integrantes de sua tribo para sucedê-lo. Para cumprir tal tarefa escolheu o mais altivo dos guerreiros de sua tribo, o mesmo pelo qual sua filha estava apaixonada, contudo Caá-yari deveria seguir seu amado por qualquer lugar que ele fosse. Seu pai não sabia se iria sobreviver caso ela viesse a se casar, visto que a mesma iria se ausentar muitas vezes por ter de acompanhar seu marido. Mesmo sendo apaixonada pelo bravo guerreiro a índia mantinha seu amor em segredo e escolheu ficar ao lado de seu velho pai, deixando de lado seu grande amor. Em um certo dia um pajé desconhecido chegou na tribo deste velho Pajé e ao ver a tristeza de Caá perguntou-lhe o que ela queria pra voltar a ser feliz; Prontamente a jovem índia pediu que de alguma maneira recuperasse suas forças de seu pai para que todos pudessem seguir em frente com a sua tribo. Ao velho cacique foi entregue uma folha verde, com odor bem marcante, sendo o mesmo instruído de como preparar uma bebida que iria renovar não só o seu corpo, como também sua alma. Assim o velho passou a sorver a bela folha, e através da nova bebida quente e amarga pode recuperar suas forças e acompanhar sua tribo em novas andanças. A nova bebida também passou a ser um símbolo de amizade entre os guerreiros, e confortava os mesmos em horas tristes e de solidão.
COMO O CHIMARRÃO CHEGOU AO RS
Conta a lenda, que os
soldados espanhóis ao chegarem à foz do Rio Paraguay, em 1536, ficaram muito
impressionados com a fertilidade da terra às margens do rio, fundando assim a
primeira cidade da América Latina: Assunción de Paraguay. Devido às saudades de
seus familiares, os desbravadores eram famosos pelas bebedeiras que tomavam. A fim de curar os efeito do álcool, os
soldados espanhóis começaram a tomar a erva-mate, já utilizada pelos índios
guaranis, por notar que ela aliviava a ressaca. Foi assim, que a erva-mate chegou
ao Rio Grande do Sul, transportada na garupa dos guerreiros daquela época.
BENEFÍCIOS DO CHIMARRÃO
Digestiva
É um moderado diurético
Estimulante das atividades físicas e mentais
Auxiliar na regeneração celular
Elimina a fadiga
Contém vitaminas - A, B1, B2, C e E
É rica em sais minerais como Cálcio, Ferro, Fósforo, Potássio, Manganês
É um estimulante natural que não tem contra-indicações
É vaso-dilatador, atua sobre a circulação acelerando o ritmo cardíaco
Auxiliar no combate ao colesterol ruim (LDL), graças a sua ação antioxidante
Por ser estimulante possui também poderes afrodisíacos, graças a vitamina “E” presente na erva-mate
É rica em flavonóides (antioxidantes vegetais) que protegem as células e previnem o envelhecimento precoce, te .ndo um efeito mais duradouro pela forma especial como se toma o mate
Segundo o médico pesquisador, Dr. Oly Schwingel, é indicado o uso do chimarrão de duas a três vezes ao dia
Previne a osteoporose, fortalecendo a estrutura óssea graças ao Cálcio e as vitaminas contidas na erva-mate
Contribui na estabilidade dos sintomas da gota (excesso de ácido úrico no organismo)
É rico em fibras que contribuem para o bom funcionamento do intestino
Auxiliar em dietas de emagrecimento
Atua beneficamente sobre os nervos e músculos
Regulador das funções cardíacas e respiratórias...,
O termo mate, como sinônimo de chimarrão, é mais utilizado nos países de língua castelhana. O termo "chimarrão" é o adotado no Brasil, embora seja um termo oriundo da palavra castelhana cimarrón, que designa, por sua vez, o gado domesticado que retornou ao estado de vida selvagem e também o cão sem dono, bravio, que se alimenta de animais que caç .a. O chimarrão chegou a ser proibido no sul do Brasil durante o século XVI, sendo considerada "erva do diabo" pelos padres jesuítas das reduções do Guairá. A partir do século XVII, os mesmos passaram a incentivar seu uso com o objetivo de afastar as pessoas do álcool.
Vamos gervear?
Vamos chimarrear?
Vamos verdear?
Vamos amarguear?
Vamos apertar um mate?
Vamos tomar um chimarrão?
Vamos tomar mate ou um mate
Que tal um mate?
MATE DE PARCERIA: quando se espera por um ou mais companheiros para matear a fim de motivar o mate, pois não gosta .de matear sozinho.
RODA DE MATE: é na roda de mate, que esta tradição assume seu apogeu, agrupando pessoas sem distinção de raça, credo, cor ou posse material. Irmanados num clima de respeito, o mate integra gerações numa trança de usos e costumes, que floresce na intimidade gaúcha.
Atualmente, os costumes mudaram, mas o hábito do chimarrão permanece cada vez mais forte, caracterizando o povo gaúcho.
Mate com açúcar: quero a tua amizade
Mate com açúcar queimado: és simpático
Mate com canela: só penso em ti
Mate com casca de laranja: vem buscar-me
Mate com mel: quero casar contigo
Mate frio: desprezo-te
Mate lavado: vai tomar mate em outra casa
Mate enchido pelo bico da bomba: vás embora
Mate muito amargo (redomão): chegaste tarde, já tenho outro amor
Mate com sal: não apareças mais aqui
Mate muito longo: a erva está acabando
Mate curto: pode prosear a vontade
Mate servido com a mão esquerda: você não é bem vindo
Mate doce: simpatia
A hora do mate, para as mulheres, era o meio da tarde, quando as lides da casa aliviavam, os filhos estavam na escola ou brincando na rua, e os maridos, trabalhando. Elas se juntavam para conversar, ouvir novelas, fazer trabalhos manuais, trocar receitas e atualizar as fofocas.
O mate doce nunca vinha só. As mulheres costumavam sentar em roda de uma mesa onde eram servidas, pelo menos, galletas e rapadura de palha. Cucas, broas, bolos e doces caseiros de várias naturezas eram o orgulho das comadres que, ao chegarem de visita, costumavam obsequiar a dona da casa com “‘alguma coisinha boa”.
“A porcelana ligada à tradição gauchesca tem nas cuias para mate doce, tão ao gosto das mulheres, as peças mais representativas. Assim como muitos objetos de metal dos campeiros e peças de uso pessoal (ponchos, palas), as cuias de porcelana eram produções europeias que vinham destinadas aos mercados consumidores das áreas sul-rio-grandenses, argentina e uruguaia, da mesma forma como acontecia com relação aos tecidos dos mais diversos. Isto ocorria em decorrência da estrutura comercial existente anteriormente, nos países sul-americanos e em razão de ausência do espírito industrial fabril de nossa gente nos primórdios de sua formação sócio-cultural, como já fizemos referência ao longo desta obra.
Estas peças, as cuias de porcelana, que hoje ocupam prateleiras de colecionadores e vitrinas de museus, variam de formas e tamanho, embora não excedam a dezessete centímetros de comprimento, com uma capacidade de 80 gramas para erva e com uma boca em forma de três centímetros de diâmetro.
As mais singelas eram estreitas (na sua largura) e com uma alça lembrando uma pequena xícara. As mais requintadas apresentavam um pé torneado e um elemento figurativo mitológico como, por exemplo, um anjo de asas semi-abertas ou então outros símbolos artísticos, geralmente humanos, sustentando o bojo do recipiente, destinado a receber a erva-mate. Aliás, frequentemente, este adorno continha flores em alto relevo, delicadas grinaldas, bordos dourados, etc. Em diversas cuias de porcelana liam-se inscrições como: amizade, saúde, amor, felicidade, etc. que pela sua grafia nos leva a acreditar serem, predominantemente outrora fabricadas na França.
Afora estas cuias antigas, de maior significado utilitário e decorativo, a porcelana atual fabricada no Rio Grande do Sul, com fins mais diversificados, resulta de uma mistura de quartzo de feldspato, barro e energia. Da pasta à modelagem, do cozimento à função dos objetos, do emprego de tintas à terminação, ela está fundamentada na cultura teuto-rio-grandense atual, sem maior vínculo estético, ou artístico à arte folclórica gauchesca propriamente dita”.
Para tais cuias pretéritas, exigiam-se bombas relativamente pequenas, proporcionais à peça com chupeta de ouro, lisas, com discretos anéis ou torneadas, na extensão da própria prata ou metal branco. Nas mais requintadas, via-se ao longo do comprimento ajustado à haste da própria bomba figuras de flores, pássaros fixos ao comprido ou inclusive as iniciais da dona da casa, próprio ao manuseio delicado dos dedos femininos.
Sabe-se também pela orabilidade que o mate traduzia simbolicamente uma mensagem poética muda e por vezes amorosa relacionada ao namoro entre os jovens solteiros ou mesmo na roda das comadres no horário da meia-tarde em diante. Alguns mates se faziam acompanhar de jujos, isto é, ervas medicinais.