Ontem, dai 31 de março, em face do falecimento de Derly Silva um dos baluartes da trova no Rio Grande do Sul, muitas pessoas nos sugeriram falar mais a miúde sobre esta arte tão bonita mas que anda um pouco esquecida. Buscamos, então, um texto da cantora Maria Luiza Benitez sobre o tema.
Em 04 de dezembro de
1982 falecia Leovegildo José de Freitas, mais conhecido como Gildo de Freitas,
eternamente reconhecido como o imbatível Trovador dos Pampas. No mesmo dia
também, porém, em 1985, ficou marcado o falecimento de Vitor Mateus Teixeira,
mais conhecido como Teixeirinha, que é reconhecido como o Rei do Disco. Não é
mero acaso do destino que os dois nomes mais expoentes da música Rio-Grandense
vieram a falecer no mesmo 04 de dezembro.
Criaram um fake que os
dois eram rivais, muito antes pelo contrário, eram amigos. Em 1989, a Assembleia
Legislativa aprovou um projeto de Lei do deputado Joaquim Moncks, que fixa o 04
de dezembro como o “Dia do Poeta Repentista Gaúcho e do Artista Regional
Gaúcho” e que consagra como patronos, respectivamente, Gildo de Freitas e
Teixeirinha.
Desse modo, esta data
não deve ser lembrada simplesmente como o dia da morte do Gildo e do
Teixeirinha, mas para recordar e exaltar o que esses homens representaram para
a cultura Rio-Grandense.
E que sirva para
lembrar a todos os gaúchos que Gildo de Freitas e Teixeirinha, durante suas
vidas e nas suas músicas, exaltaram nossa cultura, nosso Estado, nossa vida,
nossa história. Suas músicas jamais deixam de ser atuais e de retratar nosso
sistema de vida, como diria o Gildo de Freitas. Eles são exemplos para todos os
demais artistas regionais do passado, do presente e do futuro. Assim como
Paixão Cortes recriou o espírito Farroupilha e aumentou nosso orgulho das
tradições Gaúchas, Gildo de Freitas e Teixeirinha criaram a identidade da
música regional gaúcha.
Homenagens ao Gildo e
Teixeirinha não se resumem apenas ao dia 04 de dezembro. Gildo de Freitas é
nome de CTG, de rua, de bairros, do mesmo modo que Teixeirinha. Segundo o
historiador Fraga Cirne, o canto de improviso é uma das mais expressivas
manifestações da cultura espontânea do Rio Grande do Sul. É, talvez, a forma
fundamental da música regionalista do nosso Estado. Para diferenciar da trova
literária, adotou-se chamar de Trova Galponeira.
O Trovador do Rio
Grande do Sul, na parte do improviso, tem estilo próprio. Sua propagação se deu
nos galpões da estâncias para a modernidade das cidades de hoje. A trova
galponeira é a arte de improvisar versos em diferentes modalidades de
versificação e com diferentes gêneros musicais de acompanhamento,
identificadores da cultura gaúcha.
Início – o improviso de
antigamente era em quadrinhas, ou seja, de 4 versos (linhas), com rimas
intercaladas ( 2º verso com o 4º). Normalmente, ao som da viola de 10 ou 12
cordas. As primeiras caracterizavam-se por apresentar melodia livre, as
chamadas QUERO-MANAS, do período fandangueiro.
Trova Galponeira – é a
denominação atribuída a toda forma de improviso no Rio Grande do Sul.
Atualmente as mais conhecidas são: Trova Campeira, Trova Tira-Teima (em
desuso), Trova em Milonga, Trova do Martelo, Trova Estilo Gildo de Freitas e
ainda a Pajada, que também é improviso.
Trova Campeira – É a
trova tradicional de desafio (disputa) no Rio Grande do sul, com estrofes em
sextilhas (6 versos ou linhas). Versos em redondilha maior, onde as rimas são
alternadas (2º, 4º e 6º versos) e a métrica é setissilábica, isto é, versos em
sete sílabas. Esta modalidade, popularizou-se a partir das comemorações do
Centenário da Revolução Farroupilha em 1935. Seus primeiros grandes
divulgadores foram os trovadores e gaiteiros Inácio Cardoso e Pedro Raymundo.
Inácio Cardoso introduziu a sextilha (estrofe de 6 versos), que até então
cantavam em quadra (4 linhas). Por ter acompanhamento de gaita com a nota
musical MI MAIOR, numa ocasião Inácio Cardoso teria chamado de MI MAIOR DE GAVETÃO,
sendo que também chamavam esta tradicional modalidade de Trova Campeira.
Recentemente designou-se chamar de Trova Campeira e o gênero musical de
gavetão.
Gavetão – Recentemente
adotou-se chamar o gênero da Trova Campeira de Gavetão, por estar a melodia
entre o chote e a toada.
Tema – Por volta de
1956 surgiu o Tema nas trovas de disputa, para evitar a repetição de velhos
chavões, bem como para testar o conhecimento dos trovadores.
Trova Tira-Teima –
Modalidade atualmente em desuso. A melodia difere um pouco do Gavetão e não há
intervalo musical entre um cantador e outro. A parte poética é a mesma da trova
campeira.
Trova em Milonga – O
trovador improvisa em ritmo de milonga. Normalmente é utilizada em
apresentações individuais e não de disputa. As estrofes não tem um número
padrão de versos, estes em redondilha maior.
Trova de Martelo –
Versos em redondilha maior, com rimas alternadas. A música é vaneira e marcha,
com início em Mi Maior. A característica é a rima interestrófica, o concorrente
completa a rima do outro. Esta modalidade teria surgido por volta de 1955.
Trova estilo Gildo de
Freitas – Os trovadores improvisam em cima da música DEFINIÇÃO DO GRITO, de
Gildo de Freitas. Estrofes de 9 versos em redondilha maior, com rima no 2º, 4º,
6º e 9º versos e 7º e 8º entre si.
Pajada – Improviso
assemelhado à Trova em Milonga. O canto é lento, próximo à uma declamação, com
estrofes de 10 versos. Modalidade com poucos adeptos. Seu maior representante
foi nosso colega aqui na Rádio Guaíba com o programa Brasil Grande do Sul – o
magistral Jaime Caetano Braun.
O programa Nos
Quadrantes do Sul promove sempre no último sábado de cada mês o Dia da Trova. A
iniciativa tem por objetivo preservar essa modalidade.
FONTE: Maria Luiza
Benitez