Nestes tempos de
reclusão, inventei de dar uma ajeitada no meu guarda-roupas. Nem eu sabia que
tinha tantas bombachas apesar das diversas que já dei. Então, voltei no tempo,
lá pelos meus 14 anos de idade quando entrei para a invernada artística do
colégio aonde estudava, o Ginásio Industrial Antônio Francisco da Costa Lisboa,
de São Francisco de Paula, quando nem bombacha eu tinha.
Acho, até, que já
contei esta história aqui, mas tudo bem....
Lembro que quase não
pude participar de nossa primeira apresentação em um baile no Salão Esperança -
e aqui eu faço um aparte para depois seguir na prosa da bombacha - .
O Salão Esperança era um
clube para negros mas que aceitava, com muita hospitalidade e alegria, a
presença de brancos. Já a sociedade da cidade não permitia a entrada de negros
sem uma verdadeira e constrangedora sindicância na entrada. Talvez daí a
simbologia do nome, Esperança. Esperança de um dia ter igualdade.
Mas bueno. Para que eu
pudesse me apresentar e não guardasse uma frustração para o resto da vida a
minha mãe pediu a bombacha de meu avô, seu pai, Manoel Ribeiro. Como eu era
muito magro foi preciso fazer uns ajustes no cós. Aperta daqui, alinhava dali e
me fui, feliz da vida.
As botas eram as de
trabalho de meu pai, dois números maior que o meu pé mas nada que umas buchas
de pano no bico não resolvesse.
Esse foi o meu primeiro
rumo para me tornar um preservador da cultura regional gaúcha.
Não meço a vida pelas
vestes do meu corpo mas bombeando aquela pilha de bombachas, eu agradeço a Deus por
tudo o que sou e tenho.