RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

domingo, 1 de novembro de 2020

PELEANDO POR UM BIFE

 
 
 

 

Continuando nas arrumações das minhas gavetas achei mais este cartum que fiz há mais de 20 anos para o Jornal do Nativismo, do Paulo de Freitas Mendonça e percebi o quanto tal desenho, em função da pandemia, se mantém atual. 

O fã bombeia seu ídolo no palco e imagina que ali está uma pessoa que vive tudo que canta. Que seu verso o transforma em herói. Ledo engano. O artista é um ser humano comum, com os mesmos problemas pessoais, familiares, de contas a pagar, de incertezas, de angústias.

As luzes das ribaltas dão uma ideia superdimensionada dos artistas. Tem verdadeiros ícones da musicalidade rio-grandense que, ao adoecerem, precisam de "quarteadas" de amigos para cobrir os custos da enfermidade.

Falo isto porque ainda nesta semana uma pessoa que considero um mestre da nossa cultura, em claros sinais de depressão, me falava em conseguir uma cesta básica.

A Lei Aldir Blanc veio apenas amenizar os problemas daqueles que conseguem acesso através dos burocráticos editais. Ela ajuda mas seus valores, embora altíssimos, não passam de 6% do que foi perdido na seara cultural do Brasil. E para o mal dos pecados, diversos municípios gaúchos não fizeram o mínimo esforço para alcançar tais créditos aos artistas locais. Uma vergonha.

Talvez a liberação parcial aos CTGs, que também se encontram alquebrados, vá diminuindo aos poucos as dificuldades da classe artística. Quem sabe, mesmo sem poder bailar, a promoção de almoços, jantas, shows, possa ser o retorno gradual dos nossos músicos.

Tudo isso me faz lembrar de uma letra de minha marca musicada pelos Tiranos que diz assim: "quem me olha com apreço / chapéu tapeado na testa / não sabe o quanto padeço / quando estou longe de festa".

Também recordo daquela citação do glorioso Doné Teixeira que diz: "antigamente eu dava um boi para não entrar numa briga. Hoje, eu tô que peleio por um bife".