Eu sempre tive uma admiração muito grande pelo artista Paulinho Mixaria. Fui a vários shows seus. Uma vez assisti uma apresentação sua em Gravataí numa noite que, quem tivesse um pouco de medo não saia de casa, era chuva derramada de balde. Tudo alagado. Quando saí de Porto Alegre pensei: com esse tempo vai ter meia dúzia de gatos pingados. Cheguei lá e... ginásio abarrotado. Gente saindo pelo ladrão. Gosto de seus espetáculos porque, além da sua criatividade, via uma figura simples, humilde.
Quando conheci a pessoa Paulinho Silva, percebi que ele não era muito diferente de seu personagem. Um ser humano divertido mas sempre carregando suas raízes roceiras e, mais que isto, se orgulhando de suas origens.
Por esse motivo, neste domingo de Páscoa um tanto diferente, trago para nossos fiéis leitores do blog esta entrevista que o Paulinho, gentilmente, nos concedeu, a qual mostra um pouco da história deste guerreiro que peleia meio solito, mas sem esmorecer jamais. E assim, com seu esforço e seu trabalho, alcançou o merecido sucesso e reconhecimento no Brasil inteiro.
Paulinho Silva (Paulinho Mixaria) e Léo Ribeiro
Blog - Antes de
abordarmos o seu personagem você poderia nos falar um pouco da pessoa Paulinho
Silva, de sua história até chegar a consagração como Paulinho Mixaria, esta figura
carismática e admirada?
Paulinho Mixaria - Nasci
em Taquari, sai aos dois anos de lá, aí morei em Santo Antônio da Patrulha,
Taquara, Parobé, aonde fiquei até os 18 anos, quando casei e vim morar em
Gramado aonde permaneço até hoje. No dia 09 de abril, agora, completou 32 anos
que estou em Gramado.
Blog - Como foi a
composição de seu personagem? A escolha pela bombacha remendada...
Paulinho Mixaria - Eu sou de uma região bem caipira. Ali
era roça. A minha família não tinha lida de campo, cavalo... Pra nós isso tudo
foi muito romantizado, na prática a gente não viveu isto. Isto, até hoje, é meio
romantizado. Pouca gente vive, realmente, essa lida de campo e gado. Poucos tem
essa vivência. A maioria dos nossos compositores vive isto
poeticamente falando e comigo também. A minha família é da roça, do cabo da
enxada, capinando para os outros pois não tinham terras deles, plantavam de a
meia. Então, eu sempre vi minha família, os mais velhos, tios e avós assim, de
bombacha velhas, remendadas, remangadas. Esta foi a realidade que eu vivi. A
última imagem que eu tenho do meu avô materno, vivo, é ele capinando na roça,
já doente, de bombacha remendada e remangada. Então é dali que eu venho. Eu não
sou um gaúcho de fronteira e nem da serra, eu sou da roça mesmo e o meu
personagem não é bem um personagem, eu sou meio atrapalhado, desse jeito, até
pra conversar. Estudei pouco. Então vem dali esta minha imagem, porque o gaúcho
não é só de lida de campo, é também da roça e é de lá que eu venho.
Blog - Seus espetáculos
arrastam verdadeiras multidões lotando teatros, feiras, Centros de Tradições.
De quantas pessoas é formada sua equipe? O roteiro é você quem faz?
Paulinho Mixaria -
Normalmente eu viajo solito, mesmo. O pessoal me contrata e quando alguém pode
ir comigo eu levo e se não pode eu vou sozinho. Chego lá e faço o trabalho. Por
vezes alguém da família me acompanha mas não é sempre. Então, minha equipe é,
praticamente, só eu. Tem a minha família que me dá o respaldo na parte de
criação de conteúdo, internet, essas coisas assim.. Tem meu filho que ajuda,
minha nora, minha esposa, mas nas viagens, nos shows propriamente, é só eu
mesmo.
O roteiro sou eu quem
crio e na verdade é tudo meio na hora. Eu não levo nada escrito antes,
eu não penso: vou desenvolver um assunto. Não. É na hora que surge. Eu vou
improvisando e o improviso que dá certo acaba fazendo parte do próximo
show.
Blog - Como consegue
manter o público focado durante tanto tempo? Já aconteceu de esquecer o texto?
Paulinho Mixaria - O
segredo é fazer com que ele (show) passe rápido, não no sentido de fazer curto mas no
sentido de fazer com que a pessoas que foram buscar aquilo (humor), recebam de tal
jeito que não vejam o tempo passar.
Já. Já esqueci o texto
muitas vezes mas eu uso muito do improviso. Qualquer coisa que surja eu uso pegar como um gancho para brincar, para improvisar.
Blog - Você é um
humorista que não usa a piada chula, apelativa, para alcançar o sucesso. Ao
contrário, nas entrelinhas de seus textos sempre tem uma mensagem de
fundamento. Nestas horas de incertezas pelas quais atravessamos que recado você
deixaria para seus milhares de fãs?
Paulinho Mixaria - Sempre
fiz humor que não tem palavrão, que não tem racismo, que não tem homofobia, que
não tenha nada que, propositadamente, possa ofender alguém.
Na verdade de uma certa
idade pra diante eu comecei a participar de CTGs, eu escrevo poesias, já editei
4 livros de poesias, tudo produção independente, eu também escrevo músicas,
muito simples, para alguns cantadores nossos. Em CTGs eu trovava, dançava chula,
balaio, dança dos facões, tatu novo, cana verde, essas danças. Cheguei a ser
posteiro de danças do CTG Fogão Gaúcho, de Taquara... Então eu tenho essa
formação da arte feita com respeito, com carinho e cuidado. Eu sempre
procurei passar este aprendizado. O artista, em todas as áreas, é um mensageiro que Deus mandou para alegrar a vida dos outros
de alguma forma, seja quem pinta um quadro, quem escreve um poema, quem canta
uma música, quem faz um passo de dança, enfim, quem conta uma piada, o palhaço
que pinta a cara... todos eles são pessoas que receberam uma missão para tornar
a vida dos outros um pouco mais leve, mais alegre. Eu sempre levei o humor com
muita responsabilidade e sempre procuro passar mensagens de fundamento porque,
principalmente crianças e jovens, as vezes não querem ouvir os pais, os mais
velhos em casa e querem ter a última palavra e como no show sou só eu que falo,
eu falo e tá falado, não deixo eles responderem (risadas) aí as mensagens
talvez cheguem com mais facilidade.
Eu acho que é isto aí.
Quem faz a arte tem que fazer por amor a arte. O dinheiro virá, ou não, com o
amor empenhado em cada tarefa.
Léo Ribeiro - Gracias, meu querido amigo.