Gosto
por demais de um texto coerente, articulado e bem fundamentado, como é o caso do
artigo de desembargador Newton Fabrício, na Zero Hora de sexta-feira.
Sempre
que se aproxima o 20 de setembro, ouvem-se duas afirmações: que o motivo da
Revolução Farroupilha foi o prejuízo causado aos estancieiros pelo preço do
charque e que o Rio Grande é o único lugar do mundo que comemora uma guerra que
perdeu.
É
fato histórico que os estancieiros estavam sendo prejudicados pelo preço do
charque (era mais barato para o governo imperial), mas daí a sustentar que este
foi o motivo e causa da Revolução Farroupilha chega a ser uma insensatez. Ora,
ninguém sustentaria praticamente 10 anos de guerra por um motivo tão frágil,
até porque, se fosse esse o único motivo, bastava o governo imperial intervir
no preço do charque que a guerra estaria terminada. Então, esse argumento do
preço do charque como única causa e motivo da Revolução Farroupilha não se
sustenta. Não é argumento minimamente sério.
Quanto
ao argumento que o Rio Grande é o único lugar do mundo que comemora uma guerra
que perdeu: a batalha mais celebrada do mundo consistiu em uma derrota. Foi a Batalha
das Termópilas. O Sul dos Estados Unidos até hoje comemora o inicio da Guerra da Secessão. Não precisa
sequer sair do Brasil: 9 de julho, data da Revolução Constitucionalista, de
1932, é feriado em São Paulo. Por sua vez, a Inconfidência Mineira foi sufocada
antes de eclodir. Ainda assim, virou símbolo de Minas Gerais e até feriado
nacional.
Assim
como na Batalha das Termópilas, a vitória militar da província contra o império
era impossível. Basta citar um exemplo: no último ano da guerra, o Império (cujo.
exército
era composto de 33 mil soldados) enviou a Província de São Pedro um terço de seu exército - 11 mil homens. De
quantos homens era composto o exército farrapo no último ano de guerra? Somente
mil soldados. Assim, imaginar que a província poderia derrotar o império é uma
heresia.
A
vitória está no exemplo que ficou marcado na história - essa é uma terra que
luta contra a injustiça.
Essa
é a herança que os farrapos nos legaram.