RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sábado, 10 de agosto de 2019

VEM AÍ O 28º RONCO DO BUGIO


DE SÃO FRANCISCO DE PAULA


O Ronco do Bugio acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto e vai distribuir R$ 10 mil em prêmios. O evento será no CTG Rodeio Serrano (Rua Benjamim Constant, 582), a partir das 19h, em São Francisco de Paula. O Festival tem o intuito de preservar e difundir o Bugio, ritmo originário do Rio Grande do Sul a partir da criatividade dos gaiteiros serranos. As inscrições online estão abertas até o dia 13 de agosto pelo link bit.ly/roncodobugio2019.
Serão dois dias de muita musicalidade além da segunda edição do “Cozinheiros de São Chico” que no ano passado, ao lado do Arroz Amigo, ofereceu carreteiro ao público na segunda noite do evento. Este ano, a degustação elaborada pelo grupo de cozinheiros da cidade já está confirmada.
O ingresso é gratuito e o público poderá levar um quilo de alimento para o Hospital do Município. Na sexta, 30, dia da competição de músicas de autores locais, estão previstos show com Os Tiranos  e baile Volnei Gomes. No sábado, 31, quando se apresentam os concorrentes da categoria Geral e os dois vencedores da fase local, estão programados o show Quarteto Coração de Potro e baile Grupo Batendo na Marca.
O Festival Ronco do Bugio apresenta até 20 músicas inéditas todos os anos, com o intuito de valorizar a tradição, a arte, a cultura e a autêntica música regionalista gaúcha.  Os vencedores serão conhecidos no sábado, às 23h.
O Ronco oferece ao primeiro prêmio R$ 5 mil, ao segundo lugar R$2,5 mil e ao terceiro, R$ 1 mil. Outros três prêmios serão conferidos ao melhor interprete, instrumentista e música mais popular, cada um de R$ 500.
COMO SURGIU O RITMO BUGIO
Irmãos Bertussi. Primeiros músicos a gravarem um bugio
(Casamento da Doralice)

 
Hoje vamos fazer uma breve explanação sobre o ritmo bugio, o único compasso gaúcho surgido no Rio Grande do Sul.
 
Segundo o dicionário da língua portuguesa, bugio significa uma espécie de macaco. Tal animal seria oriundo da Argélia, mais precisamente da cidade de Bugia, que leva o nome por dizer-se o berço do citado primata. Figurativamente chama-se de bugio o indivíduo feio, desengonçado, que imita os outros. Macaqueador.
 
Uma característica marcante dos bugios é a presença do osso hióide (gogó) muito desenvolvido nos machos, que atua como câmara de ressonância e amplificação, conferindo a esses animais uma vocalização ímpar e mais acentuada, quando o tempo está para chover. Segundo os mais antigos “se o bugio roncou no mato, é chuva grossa de fato” e nenhum campeiro saía para suas lides sem a capa na garupa.
 
Pois foi para imitar esse ronco que surgiu o único ritmo genuinamente gauchesco, visto que todos os outros (vaneiras, chotes, valsas, etc.) são “importados”. A eterna é onde surgiu o ritmo. Alguns historiadores dizem que foi em São Francisco de Assis, através do gaiteiro Neneca Gomes. Outros, como Os Bertussi, defendem que a origem do balanço sincopado apareceu pela primeira vez lá pelas bodegas do Juá, em São Francisco de Paula, através do gaiteiro Virgílio Leitão. 
Alguns pesquisadores do assunto dizem que as afirmativas anteriores carecem de um estudo mais profundo pois a "imitação" do ronco do primata se faz com o jogo-de-foles do acordeom e as gaitas botoneiras executadas por Neneca Gomes e Virgílio Leitão, por abrirem num tom e fecharem em outro, não permitem tal movimento. 
 
O folclorista Paixão Côrtes (que amanhã, dia 12, comemora 89  anos de idade) considera que é muito perigoso precisar o nascedouro do gênero musical característico do Rio Grande do Sul e que o compasso deve ter sido criado bem depois da Guerra do Paraguai, pois em pesquisas discográficas da época do gramofone, entre o período de 1913 a 1924, nunca aparece o gênero bugio.
 
Adelar Bertussi, mais recentemente, apresentou uma pesquisa intitulada “O Bugio na Mulada”, onde retrata o aparecimento do ritmo em sua terra natal, no interior de São Francisco de Paula. Segundo suas observações, fruto de diversas entrevistas, o gênero já era dançado na região serrana, antes de 1918, pelos bugres descendentes dos índios caingangues que habitavam as encostas do Rio das Antas e os tropeiros birivas açorianos. Uma coisa é certa: foram eles, Os Irmãos Bertussi, os primeiros a gravar um bugio, intitulado Casamento da Doralice, no LP Coração Gaúcho.
Conta-se que tal qual o tango argentino, que foi parido na zona portuária de Buenos Aires e inicialmente era proibido de ser executado nos salões nobres por ser considerado um ritmo degradante pois permitia aos dançarinos um “roça-roça” inconcebível para a época, o bugio também só era retrechado nos bailes de ralé onde o cheiro da canha, o lusque-fusque das lamparinas e o perfume de baixa qualidade faziam parceria para o embalo que tomava conta dos bailões de fundo de campo. Seu compasso sincopado convidava aos bailarinos dançarem meio acotovelados e imitando os passos do bicho bugio.
Uma das características deste animal está relacionada com as suas reações ante uma adversidade, quando ele excreta e lança as fezes sobre seus adversários, ou seja, sua arma é seu esterco. Por esses motivos, quando gente de baixo quilate discute asperamente, as pessoas mais experientes aconselham: - não te mete, isto é briga de bugio!

 COMO SURGIU O FESTIVAL
 Capa do livro que editei sobre as 15 primeiras edições do Festival
Na década de 1980 proliferava no estado os festivais nativistas. Tendo a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana por pioneira, ocorreu no Rio Grande, em determinado tempo, em torno de 80 festivais ao ano.
O serrano João Cincinato Terra sentiu a necessidade do município de São Francisco de Paula acompanhar aquele movimento musical que se acentuava nas cidades riograndenses. Trocando ideias com o diretor do conjunto Os Serranos, Edson Dutra, os intentos foram amadurecendo. Tendo a convicção de que o ritmo bugio era originário dos campos de cima da serra, Edson havia tentado constituir em sua terra natal, Bom Jesus, um festival do gênero. Como esta localidade já realizava o ACORDE, um encontro de conjuntos musicais, seus ideais não foram postos em prática. Por que não realizar então tal festival no Berço do Bugio, São Francisco de Paula? Foi o que ocorreu.

Recebendo o apoio do então prefeito Luiz Antônio Salvador e dos integrantes do grupo Os Mirins (Chico e Albino), também serranos, no ano de 1986, sob um lonão de circo e um frio de renguear cusco, num meio de semana, para que os conjuntos de baile pudessem participar, aconteceu o 1º Ronco do Bugio que teve como vencedora a composição “Levanta Bugio” do cantor Leonardo, acompanhado pelo grupo Os Monarcas.

O Festival Ronco do Bugio, que agora, nos dias 27, 28 e 29 de maio acontece em sua 20ª edição, é um evento genuíno, sendo o único do Rio Grande do Sul onde só podem participar concorrentes que executem o mesmo ritmo musical, ou seja, o bugio.

Se o nascedouro do "balanço de passo de ganso" ainda gera discussões, uma coisa é certa: São Francisco de Paula preocupou-se em preservar, através da música, não só o primeiro e único gênero musical gaúcho, como também chamar a atenção de todos para a quase que extinção deste primata de nossas matas, onde, em nome do progresso, quase não se ouve mais roncar o bugio.