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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

REPONTANDO DATAS / 15 DE AGOSTO


Zeno Cardoso Nunes, Léo Ribeiro e Rui cardoso Nunes.
 
Zeno Cardoso Nunes nasceu em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul, a 15 de agosto de 1917. Filho de Jorge Cardoso de Oliveira e de Maria Nunes de Oliveira. Foi agricultor, criador de gado, fiscal do ICMS, Jornalista Profissional e membro da Associação Rio-Grandense de Imprensa. Advogado, escritor, poeta, ensaísta e dicionarista.

Publicou “Versos”, 1942; “Briga de Touros”, 3ª ed., 1962/92; “Morcegos”, 1985; “O Gigante e o Pigmeu”, 1985; “Um Judas Insonte”, 1985; “Cadeira 27” da Academia Rio-Grandense de Letras, 2001; “Tempos Idos”, 2005; “Dicionário de Regionalismo do Rio Grande do Sul”, 1983/2003, em colaboração com Rui Cardoso Nunes, 10ª ed.; “Minidicionário Guasca”, em Colaboração com Rui Cardoso Nunes, 8ª ed.; “Tentos e Loncas”, 1983, em colaboração com Rui Cardoso Nunes e José Hilário Retamozo.

Foi presidente da Estância da Poesia Crioula e do Movimento Tradicionalista Gaúcho, bem como  membro da Academia Rio-grandense de Letras. 
 
Foram-lhe concedidos 18 prêmios literários, entre os quais o “Ilha de Laytano” da Fundação “Ilha de Laytano”, e “Érico Veríssimo”, da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Eu tive a honra de compartilhar um livro com os irmãos Cardoso Nunes, intitulado Três Poetas Serranos (capa acima).
 
Seu poema mais conhecido é Briga de Touros que faz uma analogia das invasões estrangeiras em nosso solo pátrio.

BRIGA DE TOUROS


A chuva de verão passou. Veio a estiada.
O sol, a pino. A terra, inda molhada. 

Um Zebu está esperando no rodeio
outro touro, um crioulo guapo e feio
que sempre fora o dono da invernada,
e a passo largo vem se aproximando,
e vem cavando terra, e vem berrando
tão grosso que parece trovoada! 

Encontram-se e pelejam com denodo,
pondo em agitação o gado todo.
As aspas do Zebu, velozes como raio,
riscam do contendor o pelo baio
que ao sol reluz e brilha,
enquanto os cascos de ambos, como arados,
sulcam os pelos verdes e molhados
do lombo da coxilha! 

No ardor da luta entesam os pescoços,
enrijecendo os músculos potentes
em férrea contração!
Depois vão se golpeando duramente,
com orgulho de touro não vencido,
com destreza de tigre enfurecido,
com raiva e decisão! 

Uma hora eles passam nessa luta
de esforços colossais,
mas, envoltos na fúria do mormaço,
sentem fraquear os músculos de aço,
lutar nem podem mais. 

Há pairando no ar morno e pesado
um forte cheiro de chifre queimado. 

Os dois touros, briosos e valentes,
são iguais na coragem, no valor.
Mas no entrechoque bárbaro das guampas
o destemido filho aqui dos pampas
começa a demonstrar que é superior. 

O Zebu bem conhece a luta bruta
lá da Índia selvagem de onde veio,
mas não pode vencer, por mais que o queira,
o touro aqui da terra brasileira
que o obriga a deixar o seu rodeio. 

E triste, machucado e abatido,
depois de luta tão desesperada,
o pobre touro, além de ser vencido,
inda foi pelo outro perseguido
até sair de dentro da invernada. 

Dias depois os corvos carniceiros,
voejando por cima de um banhado,
indicavam aos olhos dos campeiros
o lugar onde estava, entre espinheiros,
a carniça do touro derrotado. 

O seu corpo, que o sol acariciava,
parece que tranqüilo descansava
do combate fatal,
enquanto em torno o gado, compungido,
cheirando o chão, de um jeito comovido,
berrava tristemente em funeral. 

Dentre aquela sentida orquestração
destacou-se um mugido forte e grosso
que reboou plangente no rincão: 

Era o berro do touro brasileiro
lamentando o destino do estrangeiro
que quisera ser dono do seu chão.