Companheirada.
Vai escrever aqui quem
não é associado a nenhum centro de tradições, quem não possui o cartão tradicionalista
e quem, por vezes, critica com o intuito de contribuir, a série de normas,
regulamentos, leis que acabam engessando a engrenagem do "Movimento".
Também não quero fazer
apologia a este ou aquele presidente, diretor, conselheiro, coordenador, mas
sim referendar a todos que voluntariamente se dedicaram as causas da tradição
gaúcha desde os idos tempos da década de quarenta.
Vim abrir cancha com
este texto expondo meu pensamento sobre a polêmica gerada pela contratação dos
shows sertanejos para o Rodeio de Porto Alegre por pessoas que não tem
responsabilidade alguma com a preservação da nossa cultura regional, ancoradas
por outras tantas (pessoas) que em busca de popularidade e do monetarismo,
confundem reconstrução com prostituição da música gaúcha usando o argumento de
que, para nos tornarmos universais temos que ser "Maria vai com as
outras". Já tentaram isto nos tempos da Tchê Miusic, lembram no que deu? Se o preço a ser pago pelo
reconhecimento nacional for a banalização e a fuga da identidade própria, prefiro
ficar eternamente no ostracismo.
Tenho uma admiração
muito grande pela dupla César Menotti & Fabiano. São dois rapazes
apaixonados por nossa tradição, de uma competência ímpar naquilo que se propõe,
levam multidões aonde se apresentam e carregam em si uma simpatia contagiante. Junto
com Sérgio Reis formam os sertanejos mais gaudérios do Brasil. Com isso quero
dizer que o problema não está na qualidade dos contratados mas na queixa (com
razão) de diversos artistas regionais que sentiram-se desvalorizados em sua
própria terra.
Ocorre que quem
organiza o Rodeio de Porto Alegre não é o Movimento Tradicionalista Gaúcho que,
bem ou mal, tem sentado o garrão e mantido aquilo que considera de mais
autêntico dentro do resguardo de nossos costumes nos eventos que promove.
E como poderemos cobrar
de entidades privadas como Movimento Tradicionalista Gaúcho ou até mesmo da Federação
Gaúcha de Laço quando o poder público não dá a mínima importância para a nossa
cultura? O que foi feito pelos nossos governantes em prol do folclore crioulo
nos últimos anos? Por que fecharam e extraviaram o acervo de pesquisa e de estudo, de anos de trabalho do Instituto
Gaúcho de Tradição e Folclore?
Há pouco tempo, no
encontro dos países mais ricos na Argentina, o espetáculo final aos
ilustres representantes de cada nação
foi o Bale Folclórico Argentino, todo calcado nas danças gauchas. Um verdadeiro show. E nós? O que temos para apresentar aos
turistas além de sapateadores de chula em churrascarias? Não possuímos sequer um
museu em condições de ser visitado.
Por outro lado, temos
que fazer um mea culpa e reconhecer
que a grande maioria dos artistas gaúchos, ao contrário do sertanejo, não se
ajudam, não se apoiam. E se puder dar uma rasteira um no outro, melhor ainda.
Prova está na enxurrada de críticas feitas pelos arautos da terrinha ao poeta
Rodrigo Bauer e aos músicos Mano Lima, Joca Martins e João Luis Corrêa, pelas
composições bem humoradas recentemente lançadas.
Em relação aos rodeios,
sou do tempo em que as pessoas acampavam em Vacaria para participar das
atividades artísticas e campeiras por apego a arte nativa. Os prêmios aos
campeões de doma e de laço eram um simples troféu. E todos saiam felizes. Hoje,
os "caça-prêmios", laçadores profissionais, não vão mais a eventos em
que o primeiro lugar não seja um carro zero quilômetro. Tudo gira em torno do money, do cascalho, do bem-bom, do
dinheiro. E de quem é a culpa disto? Da evolução? Do MTG que, repito, é uma
entidade particular com regras próprias ? creio que não.
Então, que a Federação
faça seu "rodeio", contrate quem bem entender, participem do mesmo
quem assim o desejar e... segue o baile sempre torcendo que o MTG não caia
nesta.
De minha parte, expresso
o que escrevi no refrão da música gravado pelo Paullo Costa intitulada O SOM
QUE O MEU RÁDIO TOCA.
Eu respeito
outras cantigas
que ecoam por aí
mas prefiro José
Mendes
Dom Ortaça e
Guarany.
E termino a prosa dando três vivas ao
artista gaúcho mais humilde que nunca é lembrado pela mídia seletiva (para não
dizer paneleira); a bravura das rádios que ainda mantém em suas grades
programas com músicas gaúchas; aos compositores e intérpretes que teimam em
participar de festivais mesmo sabendo dos conchavos e apadrinhamentos de muitos
destes eventos; ao peão de mãos calejadas que não tem um minguado no bolso mas
que não carece de holofotes para jogar seu laço, de graça, campo a fora; ao MTG
por seguir nesta luta renhida (e por vezes exagerada) de preservação da
tradição gaúcha na sua forma mais pura.
Léo Ribeiro de Souza