RETRATO DA SEMANA

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Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

terça-feira, 20 de março de 2018

ONDE ESTÁ A MALFADADA CARTA???


O episódio mais nebuloso da Guerra dos Farrapos, sem dúvida alguma, foi a Batalha dos Porongos. Deste massacre já em meio a um processo de paz, resultou na morte do Coronel Teixeira Nunes, na prisão de 280 homens de infantaria e na morte de uma centena de soldados negros. Segundo registra a história estes soldados, em sua maioria componentes da 1ª Brigada de Cavalaria, ou seja, os Lanceiros Negros, estavam desarmados de seus cartuchames por ordens do General David Canabarro que temia uma insurreição pelo fato de os imperiais não aceitarem a liberdade dos escravos prometida pelos republicanos.  
 
O que fez aumentar as animosidades e até hoje resulta em graves discussões aonde alguns historiadores chamam tal episódio de "traição" foi uma carta que teria sido escrita pelo então Conde de Caxias a seu comandante Moringue.     

 

Eis o que estaria escrito em tal correspondência: 

“Ilmo. Sr. Regule V. Sa. Suas marchas de maneira que no dia 14 às 2 horas da madrugada possa atacar a força ao mando de Canabarro, que estará nesse dia no cerro dos Porongos. (…) No conflito poupe o sangue brasileiro quanto puder, particularmente da gente branca  da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. (…) Se Canabarro ou Lucas, que são os únicos que sabem de tudo, forem prisioneiros, deve dar-lhes escapula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar, nem mesmo os outros que eles pedem que não sejam presos, pois V. Sa bem deve conhecer a gravidade deste secreto negócio que nos levará em poucos dias ao fim da revolta desta Província”. 

Há tempos venho buscando os originais desta carta. Passei dias a fio pesquisando no Arquivo Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, sem sucesso. Aquilo é uma tortura. Devia ser informatizado. Tipo Google. Tu clicar num assunto e o computador te mostrar aonde tal matéria está contida. Mas nos tempos em que eu ia lá, atrás desta famosa carta, não era assim (pode ter mudado). Tinha que ler página a página, livro a livro e... nada. Aliás, muito pouco sobre a Guerra dos Farrapos. 

Me repassaram que, talvez, no Arquivo Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, na documentação completa, inclusive correspondências particulares da vida de Caxias, eu pudesse encontrar. Fui lá e... nada. Nem sabe do que se trata.  

Pois bueno:

Na reunião mensal da Academia Maçônica de Letras, agora em março, esteve por lá palestrando sobre a entidade que preside o Sr. Miguel Frederico Espíritosanto, nada mais do que o Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

Ao final da palestra, aberta a perguntas, fui o primeiro a me inscrever e adivinhem sobre o que perguntei? Exatamente. Sobre a Carta de Caxias a Moringue. 

Ele perguntou meu nome e respondeu: - Léo. Você vai morrer procurando esta carta e não vai encontrar em lugar algum. E sabe por que? Porque ela não existe. Foi uma falsificação distribuída pelos imperialistas na cidade de Piratini "após o combate de Ponche Verde", com o intuito de denegrir a imagem de David Canabarro e enfraquece-lo durante o processo de negociação da paz. 

Se for realidade o que este estudioso de nossa história me respondeu podemos questionar uma ideia que anda disseminando-se por aí de que, neste episódio, uma traição.

É claro que tal afirmativa não é definitiva e que os debates vão continuar permeando dentre nós, mas que resulta em um balde de água fria, disto não tenho dúvidas.