furtado há quase 24 anos em Viamão
Violão foi devolvido ao dono mais de
duas décadas após o furto.
Luiz Carlos Borges tocou em agradecimento
na delegacia
(Foto: Polícia Civil/Divulgação)
O músico tradicionalista Luiz Carlos
Borges foi nesta segunda-feira (26) até a 2ª Delegacia de Polícia de Porto
Alegre para reaver um instrumento do qual passou quase 24 anos sem saber o
paradeiro. Um violão raro, comprado na Polônia e único exemplar do modelo no
Brasil, que foi furtado de seu sítio em outubro de 1994, em Viamão, estava com
um homem que vive na mesma cidade, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e
apenas desconfiava que o violão tinha sido do cantor.
Mas o que se passou nessas quase duas
décadas de desaparecimento? O delegado Cesar Carrion explica que, ao que tudo
indica, o instrumento foi passado "de mão em mão" até chegar ao
último "dono", um motorista de aplicativo. Recentemente, ele aceitou
uma corrida chamada por um grupo de músicos.
"Eles estavam indo pra um show,
levando instrumentos. O motorista começou a indagar, até que perguntou se
conhecia o Borges", diz o delegado. O homem, então, comentou que tinha um
violão que suspeitava que fosse do músico.
Os passageiros lembraram-se do furto na
residência do colega músico. Segundo o delegado, um deles perguntou a cor do
instrumento. Era branco, embora hoje esteja amarelado pelo passar do tempo,
respondeu o motorista. Os músicos checaram a informação com Borges, que
confirmou a cor.
"Aí conseguimos ir até a casa dele,
que espontaneamente devolveu o violão", narrou Cesar. O motorista disse
que comprou o violão, há mais de 14 anos, de um amigo, que tinha comprado o
instrumento de outro homem.
Por isso, o delegado confirma que é
improvável chegar até a identidade do autor do furto. "E o crime de furto
até prescreveu", diz Carrion. O prazo para prescrição é de 12 anos. A
polícia avalia a possibilidade de ocorrência de receptação.
Ao recuperar o instrumento após tantos
anos, o cantor ofereceu algumas músicas à equipe de investigação, quando foi
pegar o instrumento na delegacia.
O violão foi comprado apenas três meses
antes do roubo, segundo Borges. O músico sequer chegou a usá-lo em algum show.
"Quando comecei a praticar com ele, conhecer a dinâmica do instrumento,
fiz uma viagem a São Sepé", conta ele. Foi quando o furto aconteceu.
Nenhum suspeito do caso foi encontrado.
Além do instrumento raro, também foram roubados outros pertences, como uma
guitarra, dois televisões, um gravador e até um videocassete. O violão, porém,
não é o primeiro pertence que Borges consegue reaver. "Há uns três meses,
me entregaram a arma que eu tinha em casa e usava em pescarias, uma carabina
pequena", conta ele.
Mas o que ele queria mesmo era ter o
instrumento de volta. É conhecido como Cheri, apelido do luthier que o
construiu, um alemão de Frankfurt. Borges encontrou-se com o luthier em uma
feira de instrumentos, na Cracóvia, Polônia, em 1994.
"Ele construiu cinco violões
daquele modelo. Um para cada continente. Quando cheguei lá, apresentei minha
identificação de sul-americano, para poder comprar", conta Borges. Ele não
lembra com precisão, mas estima que tenha pago cerca de 950 dólares pelo instrumento
que só agora poderá usar. "Eu nunca perdi a esperança de
encontrá-lo", diz.
Agora, o instrumento deve passar por uma
manutenção para voltar à ativa novamente. "Mas tem um tempo de reencontro
com o instrumento. Vou tratar de dar uma nova personalidade para ele, me
reencontrar com esse violão", conclui o músico.
Fonte: G1 / RBS