Num dia 13 de janeiro de 1626 o padre jesuíta Roque Gonzales,
funda o aldeamento guarany San Nicolas (São Nicolau) na margem direita do Rio
Piratini, perto da sua foz com o Rio Uruguai. Foi o primeiro ato de brancos na
pátria dos gaúchos – nascia o Rio Grande de S. Pedro.
Também num dia 13, mas no ano e de 1852, nascia na vila de Arroio Grande (RS)
Gumercindo Saraiva, líder maragato na Revolução Federalista e braço direito de
Gaspar Silveira Martins.
Gumercindo Saraiva é o terceiro sentado
da esquerda para a direita
Filho de Francisco
Saraiva e Propícia da Rosa, foi estancieiro e caudilho na região de Santa
Vitória do Palmar, onde conduzia com força e lealdade as suas terras, sendo
conhecido como amigo fiel e inimigo perigoso. Durante os últimos anos do
Império, quando era chefe de polícia daquela localidade, chegou a ser
simpatizante da causa republicana, mas os partidários locais o desiludiram.
Líder caudilho que
arregimentava rapidamente uma montonera, seus prestígio dividia-se tanto pela
amizade com seu ilustre amigo Silveira Martins, um dos político mais influentes
do Império nos anos que precederam a queda do regime monárquico, como também se
dava em parte por seus capangas que o cercavam constantemente e os quinze mil
hectares de terra e milhares de cabeças de gado que se estendiam pela fronteira
sul do Rio Grande. Desde tenra idade adquiriu agilidade ímpar com o cavalo. Aos
dezoito anos se juntou a sua primeira montonera, quando ainda vivia no Uruguai.
Muitos que constituíam a sua montonera durante Revolução Federalista era
falantes de espanhol que ele conhecera nessa lida na década de 1870 e começo de
1880. Estes eram provenientes da região de San José, e se autodenominavam
maragatos devido à origem dos primeiros colonos dessa região, alcunha pela qual
ficou célebre o grupo federalista durante as hostilidades. Depois de viver os
seus primeiros 30 anos no Uruguai, em 1883 retorna ao Brasil, onde nascera,
fugindo da justiça. Foi também capitão de guerra, comissário de polícia e
tropeiro.
Em 1892, o governo de
Júlio de Castilhos entra numa fase de instabilidade, o Rio Grande do Sul está
em ebulição, de um lado os castilhistas Pica-paus, e do outro os federalistas
maragatos liderados pelo General João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares.
Gumercindo, tendo se negado a aderir e assim sendo perseguido pelo castilhismo,
e afim de levar a cabo a reforma constitucional parlamentarista do então
exilado Gaspar da Silveira Martins, seu patrono político e amigo, resolve
voltar ao Uruguai onde os rebeldes estavam formando suas tropas.
Em 2 de fevereiro de
1893, acompanhado por seu irmão Aparício Saraiva e liderando cerca de
quatrocentos cavaleiros atravessou a fronteira pelo povoado da Serrilhada,
entrando no Rio Grande do Sul, juntando-se aos homens do General João Nunes da
Silva Tavares, formando assim o Exército Libertador, um contingente de mais de três
mil homens, que em pouco tempo com as adesões, chegaria a doze mil. Consta que
um terceiro irmão, Mariano, também teria participado desta revolução. No
Uruguai os tres irmãos Saraiva (Saravia) eram conhecidos como Os três de Cerro
Largo.
Em 4 de abril de 1893
acontece a primeira batalha com as tropas legalistas (Pica-paus). Depois de
vários combates com as forças do governo, percebendo estar diante de um
exército melhor preparado e armado, Gumercindo Saraiva parte para a prática de
guerrilha, evita combates convencionais, dispersa as tropas legais para tentar
vencê-las depois, em partes, tática esta que deu certo.
Morreu no dia 10 de agosto do ano de 1894 no Carovi, município de Boqueirão, quando fazia um reconhecimento do campo de batalha e levou, de tocaia, um tiro pelas costas. Foi enterrado ali perto e sua sepultura foi profanada. Cortaram sua cabeça e trouxeram ao Governador Júlio de Castilhos que mandou devolvê-la aonde estava enterrada. Segundo alguns historiadores, quando passavam, de retorno, no Rio Jacuí, entre Cachoeira e Santa Maria, jogaram nas águas aquele precioso "troféu".
O escritor e cineasta Tabajara Ruas acaba de gravar sua mais recente produção cinematográfica, falando justamente deste episódio, isto é, A Cabeça de Gumercindo Saraiva.
gravação do filme A Cabeça de Gumercindo Saraiva