A
crise econômica que assola o Brasil gerando insegurança em diversos setores da
sociedade atinge, também, a tradição gaúcha. Na verdade este processo acentuou-se
com a doença do Mormo que no ano de 2015 acampou pelo Rio Grande do Sul,
inclusive originando o sacrifício de alguns animais e decretando a
obrigatoriedade da respectiva vacina (que tem prazo de validade curto), para que a Guia de Transporte Animal fosse
liberada, ou seja, para obter e GTA e conduzir os animais para rodeios,
cavalgadas e atividades afins, era - e ainda é - necessário este requisito que,
além de tornar tudo mais burocrático, custa em torno de 200 reais.
Por
conta disto, diversas cidades do Estado cancelaram os Desfiles Farroupilhas
Tradicionais no ano passado e as que realizaram, como foi o caso de Porto
Alegre, o fizeram por honra e glória pois a participação de cavalarianos foi
muito pequena em relação a anos anteriores.
As
cavalgadas seguem no mesmo tranco e o ícone destes eventos, a Cavalgada do Mar,
que outrora já contou com mais de 3 mil cavalarianos, em fevereiro de 2016
cruzou as areias de Torres a Palmares com não mais de 500 participantes. O
custo para manter um cavalo numa hospedaria gira em torno de 400 reais ao mês,
patacas que podem fazer falta para o pagamento do condomínio, da luz, do
telefone...
Nossos
rodeios viraram puro comércio e frequentá-los não é nada fácil. Além de custear
o já citado transporte dos animais, se paga para acampar, para laçar, alimentação e o trago... Vejam os valores exorbitantes da erva-mate.
E
os bailes? A maioria dos Centros de Tradições passam por naturais dificuldades
e arrecadar de 15 a 20 mil para um conjunto de renome é uma tarefa ingrata para
a patronagem. Sem contar que baile é lazer e o lazer vem depois da saúde, da
alimentação e do próprio trabalho que anda cada vez mais minguado. Sendo assim,
os frequentadores vem escasseando e as bailantas acontecem em número bem menor.
Os grupos musicais, para não ficarem parados acabam baixando seus valores e,
mesmo assim, em muitas ocasiões, encontram empecilhos para o recebimento como
cheques sem fundos e outras coisitas mais.
Tudo
isto é um efeito dominó pois o sócio não comparecendo com sua mensalidade, o CTG
vai mal e não paga as coordenadorias regionais, estas, por sua vez, não
repassam valores integrais ao Movimento Tradicionalista Gaúcho que, assim,
encontra dificuldades para as realizações de seus eventos.
Os
próprios festivais, encontros musicais agregadores e difusores do
nativismo, que aconteciam aos borbotões na década de noventa, hoje só ocorrem,
em número bem menor, por força de pessoas abnegadas das comunidades promotoras.
Para piorar, ao que parece, no âmbito Estadual, a corrupção também anda
rondando alguns setores da Lei de Incentivo a Cultura. A nível federal a Lei Rouanet
prefere voltar seus olhos para os grandes nomes da música nacional como é o
caso de Chico Buarque, Giberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethania e outros do
mesmo naipe. Os pequenos artistas dificilmente veem seus projetos aprovados.
Neste
quesito também somos culpados pois nossas festas regionais preferem desembolsar
100 mil para qualquer duplinha sertaneja que apareça por aqui em detrimento de
nossos cantores terrunhos que brigam a tapa para receber 10 mil por um belo e
autêntico espetáculo.
A
bem da verdade o cultivo das tradições gaúchas nunca foi muito barato,
monetariamente falando, pois montar uma pilcha completa não sai por menos de
700 reias. Um vestido de prenda também não fica muito aquém destes preços. Uma
encilha para seu cavalo ultrapassa estes valores. Porquanto agora, com a crise
e o desemprego batendo às nossas portas, temos que optar onde, como e quando
vamos "gauderiar".
Em
suma a tradição gaúcha depende, como nunca, do voluntariado que, desprovido de recursos, encolhe-se como mondongo na brasa.
A
esperança é que tudo se defina, a economia volte a crescer, os políticos tomem
tenência de suas responsabilidades e nossa cultura retome sua pujança porque é
complicado bombear entidades preservadoras dos nossos costumes como o Instituto
Gaúcho de Tradição e Folclore, a Secretaria da Cultura e tantas outras peleando
só com o cabo da faca, de mãos atadas e, como dizia o "Maluco
Beleza", com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar.