O Jornal Zero Hora de quinta-feira, dia 28 de janeiro, em sua página 44 (Almanaque Gaúcho) escrito interinamente por Antônio Goularte, nos traz uma interessante matéria sobre a origem da palavra Gaúcho, a qual reproduzimos na íntegra (a foto é de nossos arquivos).
Nem brasileiros, argentinos, uruguaios e
chilenos se entendem.
Tudo indica que não existe no Rio Grande
do Sul uma etimologia mais controvertida que a relacionada ao vocábulo
"gaúcho". Até um dos expoentes de nossa cultura no século passado,
Augusto Meyer (1902 - 1970), realizou minuciosas pesquisas, apontou inúmeras
versões, mas deu o assunto por encerrado sem adotar nenhuma. O mineiro Guilhermino
César (1908 - 1993), um riograndense por adoção, viu o caso como um
"quebra-cabeça". Na década de 1920, o mestre João Ribeiro já chegara
a uma conclusão semelhante quando o considerou como um "problema
insolúvel". Mais recentemente, quando perguntaram a Barbosa Lessa sobre a
origem da palavra, ele respondeu: "Ninguém sabe". Citou o
professor Fernando Assunção, que reporta
ao francês "gauche" (esquerdo), mas sem muita convicção.
Dois estrangeiros, nossos vizinhos e
interessados diretamente na matéria, foram um pouco além. O argentino Costa
Alvarez - conforme pesquisas de Carlos Reverbel - chegou a encontrar 25
etimologias da palavra, e o uruguaio Buanaventura Caviglia Hijo ampliou esse
número para 36, Segundo ele, a origem pode ter vindo nada menos do que 17
idiomas, do castelhano ao latim, passando por tupi-guarani e árabe. No final,
Hijo concluiu que gaúcho vem de "garrucho", portador de garrocha (a
nossa garrucha).
Temos ainda mais duas opiniões de
estrangeiros. O chileno Rodolfo Lenz indica a palavra araucana
"cachu" ou "cauchu" como possível origem. E o argentino
Paul Groussac optou por "guacho". Em resumo, até agora, parece que
ninguém se entendeu.
Sobre um aspecto do caso, porém, não
pairam dúvidas. Durante mais de um século, a palavra "gaúcho" teve
uma conotação nada simpática: marginal, ladrão, vagabundo, contrabandista
coureador, aquele que saqueava fazendas só para roubar o couro das reses, que
chegou a vale quatro vezes o preço do gado em pé. Hoje, a palavra é tratada com
orgulho e respeito por todos os rio-grandenses e está presente, em tom maior,
no nosso cancioneiro: "Eu sou gaúcho, eu sou do sul...".