Ibarra (de boné) em reunião na Estância da Poesia Crioula....
Aos 59 anos de existência eu já ando meio assim, alquebrado ou, como diz o Porca Véia, "cortado de alça de gaita".
Devia criar vergonha e parar de arrumar desculpas para tudo e para todos, "alevianar" o lombo e me largar campo a fora. Tinha é que seguir o exemplo do meu companheiro de lida há mais de vinte anos na Estância da Poesia Crioula, Luiz Alberto Ibarra, um jovem de espírito e de saúde que, aos oitenta e cinco anos de idade, resolveu iniciar uma carreira de acadêmico de direito. Vamos ser colegas novamente por outras searas da vida.
O Luiz Alberto Ibarra é uma santa criatura. Simpático, bonachão, sempre com uma história na mente, não tem lado ruim. É um dos três únicos fundadores da Academia Xucra do Rio Grande ainda troteando por este mundo de Deus. E que permaneça assim por muitos e muitos anos nos dando esta lição de vida.
Com esta sua iniciativa o querido Ibarra despertou a curiosidade jornalística e já foi entrevistado e filmado por várias emissoras da capital. Ontem, a Zero Hora fez uma bela reportagem com ele. Pena que não citaram uma de suas maiores virtudes, ou seja, a sua alma de poeta.
Mas vem aí, neste mês de abril, uma bela entrevista do Jornal Eco da Tradição, do MTG, com nosso grande Luiz Alberto Ibarra.
Mas vem aí, neste mês de abril, uma bela entrevista do Jornal Eco da Tradição, do MTG, com nosso grande Luiz Alberto Ibarra.
......ou na sala de aula da faculdade. Sempre o mesmo bonachão.
Reportagem da ZH no dia de ontem:
Dias antes do início
do ano letivo, Luiz Alberto Ibarra estava receoso com o retorno à rotina
acadêmica, experiência vivida uma única vez, mais de seis décadas antes.
– Eu nessa idade...
Será que a gurizada vai me aceitar?
A mulher, Suely,
tentava amenizar a ansiedade:
– Vai! Tu tá com a
cabeça boa.
Depois de uma
trajetória dedicada às tradições gaúchas e às atividades como agrônomo e
jornalista, seu Luiz, 85 anos completados em fevereiro, decidiu que não poderia
mais ignorar uma pendência antiga. Encorajado pelo exemplo de um amigo da mesma
faixa etária, graduado havia pouco, buscou informações sobre o curso de Direito
na Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), em Porto
Alegre, no final do ano passado. Sonhava com a carreira desde da década de
1940, quando a vida acabou tomando um rumo distinto – fez amizade com um grupo
de estudantes de Agronomia e enveredou por esse caminho. Trabalhou na Emater e
no extinto Diário de Notícias. Com a aposentadoria, em 2000, viu-se inquieto
nos dias de súbito ociosos, e o sonho dos tempos de moço voltou a ser
considerado. Incentivado pela família, seu Luiz finalmente decidiu se matricular.
"Não caibo em
mim de tanto orgulho e emoção!", escreveu a neta Rafaela no Facebook em 3
de março, junto de uma foto do avô preparado para o primeiro dia como
acadêmico, com a pasta pendurada no ombro. "Aos que serão colegas, façam
bom proveito de um dos caras mais inteligentes do mundo! Aos professores, que
permitam novas descobertas e conhecimentos, mas garanto que eles que ganharão
mais", completou Rafaela, que presenteou o idoso com um gravador para
registrar as explanações em sala de aula.
Seu Luiz se sentiu
"um estranho no ninho" quando chegou para o primeiro período de
Direito Penal I, no prédio da Rua Uruguai, campus Centro da Fadergs.
– Era o vovô da
turma. Aquela mocidade, aquela juventude toda. Eu era uma ilha cercada de
jovens por todos os lados – conta ele, aos risos.
Aproximou-se dos
colegas mais velhos, entre os quais descobriu um jornalista, com quem teve
bastante assunto. Arriscou-se também com os mais temidos. Diante de um menino
que chegou com um skate debaixo do braço, gracejou:
– Vai me emprestar
para descer as escadas?
Sentado na segunda
fileira, tomando notas, seu Luiz deu início nesta terça-feira à segunda semana
como universitário. Na sala de aula com cerca de 30 alunos, mais da metade da
turma era composta por estreantes no ensino superior. Desses, cerca de 10
acabaram de concluir o Ensino Médio – quatro deles ainda não completaram 18
anos.
– Me formar em
Direito é um sonho. É o sonho dele também. Acho legal – afirma Henrique da Luz,
17 anos.
Em 1h15min de aula, o
aposentado fez três intervenções, expondo dúvidas e complementando informações
da professora Natalia Pinzon. Relatou a notícia de um crime ouvida no rádio
pela manhã, despertando a curiosidade e o debate do grupo. Seguiu atento o
raciocínio da docente, sempre balançando a cabeça, concordando com o que era
dito e completando as frases que ela deixava no ar ao incitar a participação da
classe.
– Primeiro tivemos a
Idade Antiga. E depois? – questiona Natalia.
– Média – responde
seu Luiz.
– Depois veio a...?
– Moderna – diz o
novato.
– E hoje vivemos
na...?
– Contemporânea!
A formatura está 10
semestres distante. Seu Luiz pretende aguardar um pouco, deixar que o curso
avance mais, para que possa refletir melhor sobre o que pretende fazer com a
nova profissão. Se concluir todas as disciplinas no período previsto, se
tornará bacharel aos 90 anos.
– Estou aqui para
aproveitar o tempo e modificar a ideia de que o idoso só fica em casa.