RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quinta-feira, 12 de março de 2015

LIÇÃO DE VIDA


Ibarra (de boné) em reunião na Estância da Poesia Crioula....

Aos 59 anos de existência eu já ando meio assim, alquebrado ou, como diz o Porca Véia, "cortado de alça de gaita". 

Devia criar vergonha e parar de arrumar desculpas para tudo e para todos, "alevianar" o lombo e me largar campo a fora. Tinha é que seguir o exemplo do meu companheiro de lida há mais de vinte anos na Estância da Poesia Crioula, Luiz Alberto Ibarra, um jovem de espírito e de saúde que, aos oitenta e cinco anos de idade, resolveu iniciar uma carreira de acadêmico de direito. Vamos ser colegas novamente por outras searas da vida.  

O Luiz Alberto Ibarra é uma santa criatura. Simpático, bonachão, sempre com uma história na mente, não tem lado ruim. É um dos três únicos fundadores da Academia Xucra do Rio Grande ainda troteando por este mundo de Deus. E que permaneça assim por muitos e muitos anos nos dando esta lição de vida.

Com esta sua iniciativa o querido Ibarra despertou a curiosidade jornalística e já foi entrevistado e filmado por várias emissoras da capital. Ontem, a Zero Hora fez uma bela reportagem com ele. Pena que não citaram uma de suas maiores virtudes, ou seja, a sua alma de poeta. 

Mas vem aí, neste mês de abril, uma bela entrevista do Jornal Eco da Tradição, do MTG, com nosso grande Luiz Alberto Ibarra.

......ou na sala de aula da faculdade. Sempre o mesmo bonachão.

Reportagem da ZH no dia de ontem:
Dias antes do início do ano letivo, Luiz Alberto Ibarra estava receoso com o retorno à rotina acadêmica, experiência vivida uma única vez, mais de seis décadas antes.

– Eu nessa idade... Será que a gurizada vai me aceitar?

A mulher, Suely, tentava amenizar a ansiedade:

– Vai! Tu tá com a cabeça boa.

Depois de uma trajetória dedicada às tradições gaúchas e às atividades como agrônomo e jornalista, seu Luiz, 85 anos completados em fevereiro, decidiu que não poderia mais ignorar uma pendência antiga. Encorajado pelo exemplo de um amigo da mesma faixa etária, graduado havia pouco, buscou informações sobre o curso de Direito na Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), em Porto Alegre, no final do ano passado. Sonhava com a carreira desde da década de 1940, quando a vida acabou tomando um rumo distinto – fez amizade com um grupo de estudantes de Agronomia e enveredou por esse caminho. Trabalhou na Emater e no extinto Diário de Notícias. Com a aposentadoria, em 2000, viu-se inquieto nos dias de súbito ociosos, e o sonho dos tempos de moço voltou a ser considerado. Incentivado pela família, seu Luiz finalmente decidiu se matricular.

"Não caibo em mim de tanto orgulho e emoção!", escreveu a neta Rafaela no Facebook em 3 de março, junto de uma foto do avô preparado para o primeiro dia como acadêmico, com a pasta pendurada no ombro. "Aos que serão colegas, façam bom proveito de um dos caras mais inteligentes do mundo! Aos professores, que permitam novas descobertas e conhecimentos, mas garanto que eles que ganharão mais", completou Rafaela, que presenteou o idoso com um gravador para registrar as explanações em sala de aula.

Seu Luiz se sentiu "um estranho no ninho" quando chegou para o primeiro período de Direito Penal I, no prédio da Rua Uruguai, campus Centro da Fadergs.

– Era o vovô da turma. Aquela mocidade, aquela juventude toda. Eu era uma ilha cercada de jovens por todos os lados – conta ele, aos risos.

Aproximou-se dos colegas mais velhos, entre os quais descobriu um jornalista, com quem teve bastante assunto. Arriscou-se também com os mais temidos. Diante de um menino que chegou com um skate debaixo do braço, gracejou:

– Vai me emprestar para descer as escadas?

Sentado na segunda fileira, tomando notas, seu Luiz deu início nesta terça-feira à segunda semana como universitário. Na sala de aula com cerca de 30 alunos, mais da metade da turma era composta por estreantes no ensino superior. Desses, cerca de 10 acabaram de concluir o Ensino Médio – quatro deles ainda não completaram 18 anos.

– Me formar em Direito é um sonho. É o sonho dele também. Acho legal – afirma Henrique da Luz, 17 anos.

Em 1h15min de aula, o aposentado fez três intervenções, expondo dúvidas e complementando informações da professora Natalia Pinzon. Relatou a notícia de um crime ouvida no rádio pela manhã, despertando a curiosidade e o debate do grupo. Seguiu atento o raciocínio da docente, sempre balançando a cabeça, concordando com o que era dito e completando as frases que ela deixava no ar ao incitar a participação da classe.

– Primeiro tivemos a Idade Antiga. E depois? – questiona Natalia.

– Média – responde seu Luiz.

– Depois veio a...?

– Moderna – diz o novato.

– E hoje vivemos na...?

– Contemporânea!

A formatura está 10 semestres distante. Seu Luiz pretende aguardar um pouco, deixar que o curso avance mais, para que possa refletir melhor sobre o que pretende fazer com a nova profissão. Se concluir todas as disciplinas no período previsto, se tornará bacharel aos 90 anos.

– Estou aqui para aproveitar o tempo e modificar a ideia de que o idoso só fica em casa.