RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

domingo, 8 de março de 2015

A BOMBACHA BARBA-DE-BODE



Na região serrana, hoje dita planalto médio, os campos eram repletos de um capinzal, alcunhado de “barba de bode”, cujo, formava montículos  esparsos, mui parecidos quando tenro, com o “cabelo de porco”, ambos em processo de desaparecimento total, restando pouquíssimas áreas em Passo Fundo, Coxilha principalmente, e arredores, onde se pode ver essa crioula espécie.
 
A queima tradicional e sistemática dos campos no mês de agosto, para o gado aproveitar o rebrote na primavera, contribuiu em muito, para o seu desaparecimento e  empobrecimento do solo.
 
Nos anos cinquenta andávamos por esses campos na Fazenda da Roseira, usando calças compridas, de brim, apelidadas de calças de mecânico, jeans puros, em dias frios ou ensolarados e quentes, a haste, o pendão, da “barba de bode”em cuja ponta se bifurca em três lanças, cada uma,  com uma pontinha em forma de flecha, caminhando, a caminhante haste,  procura  perpetuar-se, entrando pelas barras da calças, e vai subindo sem cerimônia, obrigando o mais guapo gaúcho, a “baixar as calças” em pleno campo, para retirar um ou  vários intrusos, que espinham a pele, em três pontaços, não respeitando nem o ninho do passarinho.
 
Aprendemos com essa experiência casual, verdadeira e comprovada, que devíamos amarrar o punhos das calças, para que a barba de bode não entrasse  por eles,  pernas acima, indo alojar-se nos fundilhos.
 
 
Recorríamos as ataduras sobressalentes de borracha dos nossos bodoques.
 
Dei-me conta também, de que as bombachas dos meus avós eram apresilhadas por um botão, o que não permitia a livre entrada, da aludida barba incomodativa.
 
Retornando a priscas eras, da fundação de Passo Fundo, seus primeiros habitantes lá por 1827, talvez não, com certeza, tenham se deparado com a mesma situação, andando a pé pelos campos,  e desta experiência, tenha surgido a invenção da bombacha gaúcha! 
 
Quem duvidar da minha experiência e teoria, se puder ainda encontrar,  que vá caminhar num campo de “ barba de bode”.


Campo Grande, MS, 20.02.2014.                                                       
Odilon Garcez Ayres
Membro da APL-RS e da ALB-MS.