Na região serrana, hoje dita planalto médio, os campos eram
repletos de um capinzal, alcunhado de “barba de bode”, cujo, formava
montículos esparsos, mui parecidos
quando tenro, com o “cabelo de porco”, ambos em processo de desaparecimento
total, restando pouquíssimas áreas em Passo Fundo, Coxilha principalmente, e
arredores, onde se pode ver essa crioula espécie.
A queima tradicional e sistemática dos campos no mês de
agosto, para o gado aproveitar o rebrote na primavera, contribuiu em muito,
para o seu desaparecimento e
empobrecimento do solo.
Nos anos cinquenta andávamos por esses campos na Fazenda da
Roseira, usando calças compridas, de brim, apelidadas de calças de mecânico,
jeans puros, em dias frios ou ensolarados e quentes, a haste, o pendão, da
“barba de bode”em cuja ponta se bifurca em três lanças, cada uma, com uma pontinha em forma de flecha,
caminhando, a caminhante haste,
procura perpetuar-se, entrando
pelas barras da calças, e vai subindo sem cerimônia, obrigando o mais guapo
gaúcho, a “baixar as calças” em pleno campo, para retirar um ou vários intrusos, que espinham a pele, em três
pontaços, não respeitando nem o ninho do passarinho.
Aprendemos com essa experiência casual, verdadeira e
comprovada, que devíamos amarrar o punhos das calças, para que a barba de bode
não entrasse por eles, pernas acima, indo alojar-se nos fundilhos.
Recorríamos as ataduras sobressalentes de borracha dos
nossos bodoques.
Dei-me conta também, de que as bombachas dos meus avós eram
apresilhadas por um botão, o que não permitia a livre entrada, da aludida barba
incomodativa.
Retornando a priscas eras, da fundação de Passo Fundo, seus
primeiros habitantes lá por 1827, talvez não, com certeza, tenham se deparado
com a mesma situação, andando a pé pelos campos, e desta experiência, tenha surgido a invenção
da bombacha gaúcha!
Quem duvidar da minha experiência e teoria, se puder ainda encontrar, que vá caminhar num campo de “ barba de
bode”.
Campo Grande, MS, 20.02.2014.
Odilon Garcez
Ayres
Membro da APL-RS e da
ALB-MS.