RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Preparativos para o casório

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

QUANDO O TELMO INSPIRA UNS VERSOS


Meu amigo Eliandro Luz, do Grupo Ôh de Casa, solicitou-me uma letra para musicar e gravar no próximo CD deste grande conjunto campeiro. Como eu não tinha nada pronto, fomos para a criação.

Como letrista, considero a pior parte de uma composição a escolha do tema. Quase tudo já foi dito e cantado e não gosto de ser repetitivo. 

Foi então que bombeando um retrato antigo em que fui visitar o Telmo de Lima Freitas em seu galpão, me veio a inspiração. O Mestre Telmo possui uma rica de uma casa mas passa o dia inteiro em seu velho galpão no meio dos bichos e de seus trastes campeiros. Ali é que ele sente-se bem. 

Então, para os parceiros do grupo Ôh de Casa, me veio a inspiração de escrever DAS COISAS SIMPLES QUE EU GOSTO. Se aproveitarem, muito bem. Se não, vamos atrás de mais coisas. 

Grande abraço (e não esqueci de vocês, Quero-Quero, Chão Gaúcho, Zezinho e Daniel Barros).



DAS COISAS SIMPLES QUE EU GOSTO
Letra: Léo Ribeiro 

Tem gente que nesta vida
tem tudo e não é feliz
e sempre buscando mais
não ouve o que a’lma diz.
Quantas coisas tão modestas
me trazem satisfação
como alguém dando “ôh de casa”
na porta do meu galpão.

Não hay dinheiro que pague
a liberdade qu’eu tenho,
um pingo qu’ eu mesmo trato,
um mato qu’eu mesmo lenho.
Sentir a doce presença
da prenda que me fascina,
um mate buscando a volta,
um verso buscando a rima.

Benza Deus, que coisa buena,
largar na terra a semente
e numa talha de barro
beber água de vertente.
E quando a noitinha chega,
depois de um dia de lida,
deitar o corpo cansado
na pelegama estendida.

Inda ontem eu proseava
co’ Felisberto e o Ari
sobre os brinquedos campeiros
dos meus tempos de guri.
Esse contato com a terra
e com os pais de meus pais
me fez gostar de um sistema
que agora nem se vê mais.

Hoje o mundo está do avesso,
mas eu não frouxo o garrão,  
sou devoto de uma gaita,
bombacha e fogo-de-chão.
No Aconchego dos Gaudérios,  
onde as horas vão a esmo,
entre os meus trastes gaúchos
m’encontro comigo mesmo.