NO GAÚCHO RIO-GRANDENSE
Muitos vem tentado, inutilmente, "aportuguesar" o gaúcho Rio-grandense como se este só tivesse existido de 1700 para cá, desconsiderando, inclusive, que antes disto havia uma região sem alambrados em que o gaúcho, o gaudério, o errante, fazia de seu habitat: a Pátria de três bandeiras.
Não somos contra e reconhecemos os legados portugueses em nossos costumes, contudo, desconsiderar propositadamente a influência espanhola (principalmente na indumentária) é um crime cultural.
No século XVII, o Rio Grande do Sul era uma região disputada entre portugueses e espanhóis. A ocupação iniciou-se de fato com os milicianos, que eram tropeiros de São Paulo e Minas Gerais, sendo reforçada com a vinda de casais açorianos na década de 1750. Essa imigração açoriana foi promovida pela Coroa Portuguesa, para estabelecer o domínio português na região.
Os
espanhóis introduziram a criação de gado, que rapidamente tornou-se a economia
predominante no Rio Grande do Sul. A população se concentrava nos pampas, tendo
havido uma fusão de costumes espanhóis, portugueses e indígenas, que deram
origem ao tipo regional gaúcho. Embora o gaúcho fosse mais português que
espanhol, a influência cultural vinda dos países vizinhos predomina na cultura
gaúcha até hoje.
A
influência espanhola se fez sentir no Rio Grande do Sul, desde a sua formação.
Pode-se mesmo falar que, sem a participação espanhola, a pecuária - que seria a
base da economia gaúcha durante o século XIX e início do XX - não existiria com
a importância que tem. Mas não é só isso: no linguajar da fronteira, nas
influências culturais, países de língua hispânica desempenharam um importante
papel no nosso século.
Não
poderia ser de outra forma. Afinal, o Rio Grande representou a principal zona
de contato - e conflito - com os vizinhos espanhóis. Atualmente, metade de
nossos limites territoriais se encontra com nações de origem hispânica: ao sul
está o Uruguai, ao oeste a Argentina. No século XVII todo o atual estado estava
em mãos espanholas. No século seguinte os portugueses conquistaram algumas
áreas, e boa parte do território gaúcho voltou a ficar em mãos espanholas -
suas tropas invadiram o sul do estado, ocupando a cidade de Rio Grande por 13
anos. Já no início do século XIX a situação foi inversa: foi o Brasil que
ocupou a área do Uruguai, incorporando-o ao seu território como Província
Cisplatina.
Além da
economia, também em termos culturais a influência espanhola se fez presente, em
especial na zona da Campanha. Ali, vivendo situações parecidas e com atividades
econômicas idênticas, os gaúchos dos dois lados desenvolveram vestimentas
extremamente semelhantes. Da mesma forma, o falar, a musicalidade, as
danças, sofreram e sofrem grande influência da cultura espanhola. Também a
gastronomia é bastante parecida: a carne é a base alimentar de todo o pampa.