O PINGO É MEU CONFIDENTE
(Rodrigo Bauer)
Eu nasci na madrugada
de uma estância da fronteira,
recém saia a boieira
nos céus da pampa estirada...
cresci cruzando invernadas
no meu petiço da encilha...
Sou parte desta tropilha,
pois minha avó, destorcida,
curou minha tosse comprida
com o leite de uma rosilha!
Nas domas e amanunciadas
fui aprendendo os atalhos
que cercam esse trabalho
da lida com a cavalhada...
Maneadores, gineteadas,
buçal, tirões e pealos...
O freio, o modo de usá-lo
e, sobretudo, a paciência
que é a alma dessa ciência
de se fazer bom cavalo!
O pingo é meu confidente
das horas mais solitárias,
uma amizade lendária
a confundir bicho e gente!
Pois o cavalo pressente
o coração do campeiro...
Sabe avaliar por inteiro
quem seu respeito mereça
e vem coçar a cabeça
na mão do dono e parceiro!
Eu desconfio em seguida
dos que não gostam dos fletes;
acho que isso reflete
alguma dor mal-ferida...
Os pingos são minha vida
que vai levantando o pó!
Não era á toa esse nó,
que os gregos já imaginavam
os centauros que juntavam
cavalo e homem num só!