
Vocês podem ter certeza de uma coisa. Quando um festival nativista tem sua data modificada, ou seja, é adiado, noventa por cento das vezes são por motivos financeiros. Ou a prefeitura na cidade do evento não aportou verbas, ou o patrocínio cultural não aconteceu, mesmo com a Lei de Incentivo a Cultura ou a Lei Rouanet aprovadas. Os outros dez por cento são por outros problemas como, desorganização, poucos concorrentes, superposição de datas, ou algum caso fortuito e imprevisto pela organização.
Da mesma forma, quem lida com festival sabe que é muito difícil, para não dizer impossível, que um evento nativista seja autosustentável, ou seja, não precise de auxílio financeiro externo. Não sei bem atualmente, mas quando coordenei, por quatro edições o Festival Ronco do Bugio, com grandes atrações, boas ajudas de custo e premiações, grande divulgação na mídia, tal evento não saia por menos de R$60, R$70 mil. Se não há um apoio (público ou privado) para tais despesas, ocorrre como no pioneiro e maior festival do Rio Grande do Sul, a California de Uruguaiana, que hoje, segundo informações, tem um débito de mais de R$ 400 mil.
Isto tudo é um preâmbulo para o tema desta postagem.
Quando soube oficialmente e pessoalmente, através do Secretário de Turismo de São Francisco de Paula, Sidnei França, que o Ronco do Bugio (o Festival Mais Autêntico do Rio Grande, pois é o “único” onde só concorrem composições no compasso de bugio, ritmo genuinamente gauchesco), teria sua data prorrogada perguntei-lhe: Por que?
A resposta do meu amigo Sidi, uma pessoa incansável e batalhadora pela cultura e o turismo de cima da serra, foi esta:
- Vamos abrir um processo de licitação para organização do Ronco do Bugio e da Festa do Pinhão e por isso precisamos de mais prazo. Tal procedimento licitatório – continuou o Sidi - já ocorreu no festival Sapecada, de Lages, Santa catarina. Vai ser na modalidade Pregão e leva uns oito dias para sua efetivação.
Pelo que eu entendo de licitação quem oferecer o maior preço, comprometendo-se a cumprir as prerrogativas expostas no edital, ganha o certame.
Então eu pergunto: Se um festival é deficitário, ou mesmo que se consiga algum patrocínio ( por lei, este patrocínio deverá cobrir apenas as despesas), que empresa ou produtor cultural ainda vai ofertar dinheiro para realizar tal evento?
Sinceramente não entendi este processo e gostaria que alguém me explicasse como funciona na prática....
De toda a forma, fico dando todo o meu apoio para que o Ronco do Bugio aconteça pois é um evento preservador de cultura e que tantas alegrias e músicas memoráveis já doou a nossa terra gaúcha. Escrevi um livro sobre este evento e sou testemunha da história linda de sua criação, pelos Mirins e pelos Serranos, e de seus 21 anos de existência a começar pela lona de um circo até a edificação do belo ginásio municipal, construído em função da grandeza do festival. Problemas existiram (e qual festival não os teve?) mas é exatamente para evitar tais problemas e dar mais transparência aos gastos que, segundo os organizadores, estão criando a presente licitação.
Estou pagando para ver.... e ficando na torcida de que eu perca!