Ontem pela manhã quando o poeta, músico serrotista, meu amigo e grande colaborador deste blog Luciano Salerno mandou-me o resultado da 5ª Querência da Poesia Xucra de Caxias do Sul, pelo título da obra, despertou-me uma imensa curiosidade de conhecer o poema vencedor de autoria de Gujo Teixeira e Rodrigo Bauer, dois dos maiores poetas da nova geração de vates do Rio Grande, ambos integrantes da Estância da Poesia Crioula. O poema foi defendido pelo também poeta, declamador e pajador Pedro Junior da Fontoura, da mesma forma integrante da Academia Xucra do Rio Grande.
Pois o Luciano Salerno, meu afilhado na Estância, teve a gentileza de mandar-me, além de outros, o poema vencedor, o qual repasso para vocês. Vejam que primor de versos e que escapada da mesmice que ronda muitos de nossos poemas gauchescos.
Agora, apesar da minha admiração pelos autores e pelos versos, tal poema deve ter dado um nó nos jurados pois, de Poesia Xucra, alvo do festival, ele não tem muita coisa.
Agora, apesar da minha admiração pelos autores e pelos versos, tal poema deve ter dado um nó nos jurados pois, de Poesia Xucra, alvo do festival, ele não tem muita coisa.
Entre Dom Quixote De La Mancha e Uma Traça Faminta
Dom Quixote ressonava dentro de um livro esquecido,
quando acordou assustado por um estranho ruído!
Uma traça devorava uma página amarela,
seu destino era “traçado” e triturado por ela!
Nessa página impassível, que a traça roia aos poucos,
Cervantes lhe condenava à condição de ser louco...
E a velha biblioteca, tomada pela aflição,
pode ver a realidade digerindo a ficção!
O velho herói deu um salto, procurando a sua lança;
chamou, do fundo da história, o seu fiel Sancho Pança...
Pensou em sair à busca, nos livros da mesma estante,
por outro guerreiro nobre, qualquer cavaleiro andante...
Arrepiou o bigode, bradou cruéis impropérios
culpando os tempos modernos e seus nocivos mistérios;
que toda a Literatura se encontra sob ameaça
e toda essa gritaria deu mais apetite à traça!
Nunca assim, tinha lutado contra revés tão daninho,
só contra ovelha e pastores e mais de trinta moinhos...
Pensou, temente, se a traça lhe roesse toda a idéia
ia esquecer das promessas que fez para Dulcinéia...
Tentou fugir a cavalo, mas não chegou ir distante,
a traça tinha roído um naco do Rocinante!
Quando já vinha cansado, judiado em cima do arreio,
ela vinha degustando dois capítulos e meio!
Nem mesmo um inseticida, um “flite” ou um semelhante
o nosso herói encontrava para o derradeiro instante...
Sozinho se debatia... Que, pra aumentar a desgraça,
a Dulcinéia e o Sancho vinham na “pança” da traça!
Quem diria Dom Quixote, enfim, de fato lutando
pra defender sua terra, que a traça vinha ocupando!
“Alto lá, traça bandida! Pois este papel tem dono!”
parafraseou Tiaraju, sem poupar garbo ou entono!
A traça olhou para o velho, com sua fome tamanha,
e atropelou o coitado que despediu-se da Espanha...
Comeu arreio e cavalo, traçou bigode e armadura
e, do Quixote espantado, não sobrou nem a loucura!
E a traça? Nunca mais vi... E nem quero saber da bruxa...
Só espero que se conserve longe da estante gaúcha!
Foi vista por Dom Casmurro, entrando no livro a trote,
ia palitando os dentes com a lança de Dom Quixote!
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