Nossa homenagem a um dos gaúchos mais campeiros que conheci e que partiu para as sesmarias do infinito esta semana: JOSÉ FONSECA.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

GUJO + BAUER = 1º LUGAR

Ontem pela manhã quando o poeta, músico serrotista, meu amigo e grande colaborador deste blog Luciano Salerno mandou-me o resultado da 5ª Querência da Poesia Xucra de Caxias do Sul, pelo título da obra, despertou-me uma imensa curiosidade de conhecer o poema vencedor de autoria de Gujo Teixeira e Rodrigo Bauer, dois dos maiores poetas da nova geração de vates do Rio Grande, ambos integrantes da Estância da Poesia Crioula. O poema foi defendido pelo também poeta, declamador e pajador Pedro Junior da Fontoura, da mesma forma integrante da Academia Xucra do Rio Grande.

Pois o Luciano Salerno, meu afilhado na Estância, teve a gentileza de mandar-me, além de outros, o poema vencedor, o qual repasso para vocês. Vejam que primor de versos e que escapada da mesmice que ronda muitos de nossos poemas gauchescos.

Agora, apesar da minha admiração pelos autores e pelos versos, tal poema deve ter dado um nó nos jurados pois, de Poesia Xucra, alvo do festival, ele não tem muita coisa.

Uma Incrível Batalha
Entre Dom Quixote De La Mancha e Uma Traça Faminta

Dom Quixote ressonava dentro de um livro esquecido,
quando acordou assustado por um estranho ruído!
Uma traça devorava uma página amarela,
seu destino era “traçado” e triturado por ela!

Nessa página impassível, que a traça roia aos poucos,
Cervantes lhe condenava à condição de ser louco...
E a velha biblioteca, tomada pela aflição,
pode ver a realidade digerindo a ficção!

O velho herói deu um salto, procurando a sua lança;
chamou, do fundo da história, o seu fiel Sancho Pança...
Pensou em sair à busca, nos livros da mesma estante,
por outro guerreiro nobre, qualquer cavaleiro andante...

Arrepiou o bigode, bradou cruéis impropérios
culpando os tempos modernos e seus nocivos mistérios;
que toda a Literatura se encontra sob ameaça
e toda essa gritaria deu mais apetite à traça!

Nunca assim, tinha lutado contra revés tão daninho,
só contra ovelha e pastores e mais de trinta moinhos...
Pensou, temente, se a traça lhe roesse toda a idéia
ia esquecer das promessas que fez para Dulcinéia...

Tentou fugir a cavalo, mas não chegou ir distante,
a traça tinha roído um naco do Rocinante!
Quando já vinha cansado, judiado em cima do arreio,
ela vinha degustando dois capítulos e meio!

Nem mesmo um inseticida, um “flite” ou um semelhante
o nosso herói encontrava para o derradeiro instante...
Sozinho se debatia... Que, pra aumentar a desgraça,
a Dulcinéia e o Sancho vinham na “pança” da traça!

Quem diria Dom Quixote, enfim, de fato lutando
pra defender sua terra, que a traça vinha ocupando!
“Alto lá, traça bandida! Pois este papel tem dono!”
parafraseou Tiaraju, sem poupar garbo ou entono!

A traça olhou para o velho, com sua fome tamanha,
e atropelou o coitado que despediu-se da Espanha...
Comeu arreio e cavalo, traçou bigode e armadura
e, do Quixote espantado, não sobrou nem a loucura!

E a traça? Nunca mais vi... E nem quero saber da bruxa...
Só espero que se conserve longe da estante gaúcha!
Foi vista por Dom Casmurro, entrando no livro a trote,
ia palitando os dentes com a lança de Dom Quixote!


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