Vasco de Mello Leiria é personagem conhecidíssimo nos meios tradicionalistas e culturais do Estado. Coronel reformado da Brigada Militar -a “Briosa” de tão gratas legendas - , fez o curso de direito enquanto oficial. Ao reformar-se, trocou a farda pela beca de bacharel.
Para seus amigos é o “Caraguatá” - apelido que aceita naturalmente e que deve ter-se originado de seus bigodões crespos, suas sobrancelhas espessas e arrepiadas ou, talvez, de seu gênio inquieto, de sua franqueza de opiniões, de suas colocações as vezes ásperas para espíritos de gente que estudou em “colégio de freiras”. De quebra, o Caraguatá é poeta que se divide entre o lírico, o parnasiano e o gênero nativista, com obra editada pelo não menos conhecido Martins Livreiro - “marca e tarca da cultura gaúcha”, na definição do Bira Fontoura, artista plástico são-borjense.
Pois há vários anos quando residia e advogava em santa Maria, o Caraguatá foi convidado para pronunciar uma palestra no CTG Tapera Velha, de Tupanciretã, eo ensejo de um encontro de “patrões” de entidades tradicionalistas. Foram seus companheiros, nessa jornada de cem quilômetros de estradas, os então estudantes universitários Xiru Vasseur e negro Motta. Deste último ouvi o causo que ora alinhavo.
Nosso herói e seus amigos eram conduzidos a seu destino pelo Barin, jovem empresário santa-mariense, famoso por suas habilidades no comando de um automóvel que, no caso, era o seu – uma “barata” Chevrolet importada que só faltava voar.
Estava sendo ultimada a estrada asfaltada entre Santa Maria e Tupã e vários trechos não haviam recebido nem mesmo a primeira camada de pedras. Eram pura terra – na ocasião transformados, pela chuva, em barrais de atolar sapos. O mau estado desses trechos não impediam que o Barin baixasse menos o pé do acelerador da chefrola, derrapando nas curvas, passando perigosamente perto dos barrancos e declives lateais pendendo para socavões de meter medo.
Caraguatá – que sempre teve horror a viagens de automóveis por estradas embarradas e que não admitia velocidades acima de 50/60 km por hora, suava pelo rego da bunda. Mascava o bigode - num gesto muito seu – e largava de quando em quando suas tradicionais fungadas de capincho que saiu do arroio.
Logo após uma derrapada que fez a “barata” dançar, num legítimo cavalo-de-pau em pista de sabão, não resistiu. Endireitou-se no banco, alisou a bigodeira arrepiada, fez tremer os pulmões numa fungada macha e indagou do Barin:
- Me conta uma coisa, Barin...
- O quê, bacharel?
- Automóvel é passarinho, Barin?
- Não, não é. Por que?
- Por nada. Só outra coisita, Barin. Tu gostas de trepar, Barin?
- Quem não gosta, bacharel. E gosto barbaridade!
- Pois então, filho da mãe, alivia o galope deste teu auto que não demora a gente roda, entope num precipício desses e tu nunca mais vais trepar com ninguém, Barin de merda!
recolhido do livro rapa de tacho 3 de Apparício Silva Rillo – Ed tchê
Para seus amigos é o “Caraguatá” - apelido que aceita naturalmente e que deve ter-se originado de seus bigodões crespos, suas sobrancelhas espessas e arrepiadas ou, talvez, de seu gênio inquieto, de sua franqueza de opiniões, de suas colocações as vezes ásperas para espíritos de gente que estudou em “colégio de freiras”. De quebra, o Caraguatá é poeta que se divide entre o lírico, o parnasiano e o gênero nativista, com obra editada pelo não menos conhecido Martins Livreiro - “marca e tarca da cultura gaúcha”, na definição do Bira Fontoura, artista plástico são-borjense.
Pois há vários anos quando residia e advogava em santa Maria, o Caraguatá foi convidado para pronunciar uma palestra no CTG Tapera Velha, de Tupanciretã, eo ensejo de um encontro de “patrões” de entidades tradicionalistas. Foram seus companheiros, nessa jornada de cem quilômetros de estradas, os então estudantes universitários Xiru Vasseur e negro Motta. Deste último ouvi o causo que ora alinhavo.
Nosso herói e seus amigos eram conduzidos a seu destino pelo Barin, jovem empresário santa-mariense, famoso por suas habilidades no comando de um automóvel que, no caso, era o seu – uma “barata” Chevrolet importada que só faltava voar.
Estava sendo ultimada a estrada asfaltada entre Santa Maria e Tupã e vários trechos não haviam recebido nem mesmo a primeira camada de pedras. Eram pura terra – na ocasião transformados, pela chuva, em barrais de atolar sapos. O mau estado desses trechos não impediam que o Barin baixasse menos o pé do acelerador da chefrola, derrapando nas curvas, passando perigosamente perto dos barrancos e declives lateais pendendo para socavões de meter medo.
Caraguatá – que sempre teve horror a viagens de automóveis por estradas embarradas e que não admitia velocidades acima de 50/60 km por hora, suava pelo rego da bunda. Mascava o bigode - num gesto muito seu – e largava de quando em quando suas tradicionais fungadas de capincho que saiu do arroio.
Logo após uma derrapada que fez a “barata” dançar, num legítimo cavalo-de-pau em pista de sabão, não resistiu. Endireitou-se no banco, alisou a bigodeira arrepiada, fez tremer os pulmões numa fungada macha e indagou do Barin:
- Me conta uma coisa, Barin...
- O quê, bacharel?
- Automóvel é passarinho, Barin?
- Não, não é. Por que?
- Por nada. Só outra coisita, Barin. Tu gostas de trepar, Barin?
- Quem não gosta, bacharel. E gosto barbaridade!
- Pois então, filho da mãe, alivia o galope deste teu auto que não demora a gente roda, entope num precipício desses e tu nunca mais vais trepar com ninguém, Barin de merda!
recolhido do livro rapa de tacho 3 de Apparício Silva Rillo – Ed tchê
Gravura de Jorge Rajedell