RETRATO DA SEMANA

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Preparativos para o casório

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A GUERRA DOS FARRAPOS - PARTE VI


A GUERRA SEM BENTO

Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-grandense em 6 de novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. A concorrida eleição foi vencida por Bento Gonçalves da Silva (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice interinamente a presidência com a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.

A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.

Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo Brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província com capital em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das idéias farroupilhas, confiscando seus bens; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandante das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.

Em 8 de abril o general Netto conquista Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial, depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o Combate de Ivai, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul.

A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu, ou pelo Rio Uruguai. Em 29 de agosto é assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro imperial, no ano anterior.

A 29 de agosto de 1838 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo, e coloca a nação gaúcha no seu verdadeiro lugar entre as demais nações da Terra: -Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer. Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. E no trecho final, um juramento importante lembrado e cobrado pelos Farrapos de todos os tempos: - Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Ponche Verde.

Carta de Bento Gonçalves aos seus comandados, escrita na prisão