quinta-feira, 13 de maio de 2010

OS QÜERAS


Quando bombeio a foto desta rapaziada que agregaram a já lendária Passo Fundo mais um motivo de orgulho com a criação dos Qüeras, fico lembrando do saudoso poeta Mario Quintana que, entre tantas preciosidades, escreveu que tinha saudades de ruas por onde jamais passou. Não conheço pessoalmente nenhum destes gaúchos, poetas, escritores, declamadores, músicos, enfim, guardiões da tradição, mas sinto como se fossemos velhos amigos. Vou mais além: sinto saudades desta indiada que jamais tive o prazer de apertar as mãos. Nos identificamos pelo apego as coisas da terra. Trato o Glaucio por “mano” sem conhecer seu rosto, chamo o Edgar Paiva de “índio velho” como se falasse com um amigo de infância. Admiro por demais o trabalho do Glenio, do Dr. Flori e de tantos outros do Grupo, sem nunca ter a oportunidade de manifestar-me a respeito disto. Como já disse, nos reconhecemos pelos motivos de campo, pelos legados da história, pelo espírito de gaúchos que somos. Mas, há de chegar a vasa em que emborcarei um vinho, ouvirei uns causos e darei umas boas risadas deste mundo ao lado destes parceiros.

Abaixo, um breve histórico que pedi aos Qüeras de como se forjou e se mantém este grupo que faz das tradições suas razões de viver gaudérios.

Caro Léo.

Me encomendaram este escrito para que eu falasse sobre um tema que para mim é dos mais caros.

Em verdade, essa história começa lá nos idos dos anos 2000 se bem recordo, quando juntamente com os amigos Marcus Vieira, Homero Cruz Ribeiro, Rafael Bortoluzzi e Alexandre Tremarin, formamos um grupo muitíssimo fechado dentro da faculdade de direito da UPF de Passo Fundo, RS, onde, na real acepção da palavra, fazíamos “quase” tudo juntos. Neste grupo, sempre quando possível, estava meu grande amigo, hoje cunhado, e sempre irmão Jauro Gehlen, que entre uma viagem e outra de shows com a dupla de ouro Osvaldir e Carlos Magrão como Gaiteiro e Tecladista, fazia umas matérias da faculdade com a gente.

Neste tudo junto, logicamente que as famílias também entraram no mate, ora recebendo para as noitadas de “estudo” desse povo, ora recebendo para as borracheiras e gaiteadas sempre costumeiras. Ocorre que esse time, e isso até posso me gavar, foi com o tempo adotando, cada vez mais, a bombacha, o mate, o nativismo e até mesmo as serranas lidas de campo, como um belo exemplo disso a derrubação de terneiros pelas pernas, coisa rara de se encontrar longe de Lagoa Vermelha, Esmeralda e Vacaria... Aí entra parte de minha família, da qual muito me orgulho, que são de Lagoa Vermelha e Vacaria, terra originária de meus pais.

Essas idas à serra, ou melhor, aos campos de cima da serra, tornaram mais forte e frequente a convivência dos meus amigos de Passo Fundo, com meus parentes da Serra Gaúcha!! E não é que o tempo, este velho sábio de barba branca nos preparou uma peça? Sim, pois os grandes amigos, aqueles que se fizeram juntos, no dia importante de suas formaturas iriam se separar!

Dia 21/08/04, esta era a data marcada para nossa formatura perante a sociedade e a lei, porém a certeza era grande de que antes disso, devíamos abraçar algumas pessoas que para nós eram importantíssimas. Além do que, ainda em fevereiro daquele ano tínhamos concorrido e vencido o Festival IV Cante uma Canção em Vacaria com a música Serrano Sim Senhor, juntamente com o Dr. Flori Wegher, autor da letra, outro quera que logo se encaixa na história, e que era nosso professor da faculdade de Direito, tornando o grupo cada vez mais unido.

Início de inverno de 2004, reunião dos amigos de sempre e o Homero faz a pergunta chave: - E eu não poderei convidar os teus tios, nem o Flori pra minha festa porque eles estarão na tua??? Era isso... Todos queriam convidar as mesmas pessoas, mas não dava... Feito! Saiu a idéia, coquetel campeiro no Capão Bonito! Foi assim mesmo inicialmente chamado o evento. O nome de Os Qüeras ninguém sabe o autor.

Daí foi levar a idéia pro Guara, que cedeu o espaço, bem rústico e serrano, pro primeiro encontro, e chamar o Jauro e os convidados de honra!! Dalí pra entendermos que estávamos criando uma coisa mágica, não foi preciso mais que 3 anos, logo os novos convidados, que são poucos, não chegam a 30, nos abriram os olhos pra magnitude do evento, pelo menos para os que dele participam. Pois confraria serrana, no mês mais frio do ano, abaixo de paçoca de pinhão com charque, trago, churrasco e outras bóias, não é todo dia, além do que Zé Mendes, Bertussi, Pedro Raimundo, Albino Manique e por aí vai, também já não são mais tão lembrados, porém para nós são presenças vivas em cada canto, assobio ou sorriso.

Haveria tanto pra se falar.... Dos não citados, dos meus irmãos, dos que vem de longe, dos músicos, dos mais velhos, dos causos, do sentimento.... Mas isso, bem, isso é impossível traduzir. Só podemos garantir uma coisa por enquanto: enquanto houver uma geada e um toque de gaita serrana, lá estaremos nós com TRAGO, GAITA E PARCERIA!

Dá-lhe QÜERAS!!!

Glenio Vieira